O criminalista Marcello Feller, responsável pela defesa do adolescente de 17 anos acusado de participação no ataque a tiros em Suzano, afirmou nesta segunda-feira, 25, que apresentou petição para analisar suposto perfil de G.T.M. no Twitter, o atirador de mesma idade que liderou o massacre contra a Escola Estadual Raul Brasil.

Segundo Feller, mensagens postadas no perfil do Twitter indicam que o atirador planejava o crime desde pelo menos abril de 2018, época em que ele ainda estava brigado com o adolescente apreendido na última terça-feira, 19.

“As provas indicam o cenário em que, nos idos de 2015, quando o adolescente tinha 13 anos, ele e o autor muitas vezes fantasiavam sobre o massacre na escola”, afirma Feller. “Em determinado momento, os jovens brigaram por causa de uma garota. Ele só voltou a falar com o autor em outubro de 2018 e só voltou a ficar amigo em 2019”

Mensagens do suposto perfil do atirador datadas de abril de 2018 afirmava que “o Brasil está longe de acontecer uma guerra, mas vai acontecer”. Em agosto, outra mensagem diz que o atirador teria arrumado um emprego e com isso, teria “todos os meios necessários para o julgamento”.

Em outubro, afirma ter “encontrado alguém” que simpatizaria com a “causa”. Segundo a defesa, se trata de Luiz Henrique de Castro, 25, que participou do ataque.

“O plano (do atirador) já estava em andamento antes dele e o adolescente voltarem a se falar”, afirma Feller. De acordo com o criminalista, apesar do adolescente apreendido ter fantasiado sobre o massacre há quatro anos, o Ministério Público ainda não apresentou provas que corroborem sua efetiva participação no ataque.

“Eram dois garotos contando sobre suas fantasias. Fantasiar é diferente de colocar em prática”, disse Feller. “Diante desse contexto, de fato, ele fantasiou, mas isso nunca saiu do campo da fantasia”, disse.

Além da petição pela quebra do sigilo do suposto perfil do atirador no Twitter, a defesa também solicitou análise e comparação das impressões digitais encontradas no veículo do autor com as do adolescente apreendido.

De acordo com Feller, a Polícia Civil age com “precipitação processual” pelo caso envolver um menor de idade, e por essa razão querer encerrar o caso o quanto antes. A defesa alegou ainda não ter acesso às íntegras das conversas trocadas pelos autores do crime e pelo adolescente, além de afirmar que “o boletim e o inquérito estão bem bagunçados”.

“Imagino que se o adolescente fosse maior de idade, eles iam manter o garoto preso. Como não existe essa possibilidade, a precipitação vem daí”.

O criminalista afirma ter solicitado à Justiça que ampliasse o tempo de internação provisória do adolescente, para ter tempo de analisar todas as provas contra o rapaz. Apreendido na terça-feira passada, o adolescente deverá ficar em uma unidade da Fundação Casa por 45 dias.

“Se eu quero analisar os 400 mil volumes, preciso de tempo. Pedi para a Justiça para alongar o prazo, mas foi negado”, afirma. Se no prazo de 45 dias a Justiça não chegar a uma sentença, o adolescente é posto em liberdade.

Sinceridade

Segundo Marcelo Feller, o adolescente respondeu a todas as perguntas da promotoria “com muita sinceridade”. Teria sido o jovem que entregou o próprio celular e narrado as conversas que manteve com o atirador, incluindo o dia em que participaram de um treino de airsoft.

Naquele dia, o atirador teria perguntado ao adolescente se ele já havia pensado em se matar. “Ele disse que não, ele tem muitos planos para o futuro”, afirma Feller.

Segundo o advogado, o atirador não revelou o plano devido à “sinceridade” do adolescente. “Se ele tivesse falado, o jovem teria contado para a mãe”. O advogado afirma que o rapaz demonstrou, segundo relatos de familiares, “uma angústia tremenda” e ficou em “estado catártico” quando soube do ataque à escola.