Os spreads bancários no Brasil, a diferença entre as taxas que os bancos pagam para captar recursos e a que eles emprestam aos tomadores, estão mais relacionados ao nível de concorrência entre as instituições financeiras do que a concentração do setor no País, aponta estudo do Banco Central divulgado nesta segunda-feira, 27, e que faz parta do “Relatório de Economia Bancária” de 2018, que será divulgado na íntegra nesta terça-feira, 28. Apesar do peso determinante do fator concorrência no custo do crédito, o estudo alerta que um aumento do grau de competição sozinho “provavelmente não seria capaz de promover redução expressiva dos spreads”.

O BC observa que os resultados do estudo reforçam o diagnóstico de que para ocorrer uma redução sustentável do custo do crédito no Brasil é “fundamental avançar em iniciativas que reduzam a inadimplência, aumentem a capacidade de recuperação de garantias e reduzam assimetrias de informação sobre os tomadores de crédito”. Este último ponto vem sendo atacado pelo governo com a entrada em vigor do cadastro positivo.

O estudo do BC começa ressaltando que a relação entre concorrência, concentração e spread bancário é controversa na literatura econômica. Mesmo os testes empíricos envolvendo essas variáveis não implicam, necessariamente, relação de causalidade entre elas. Por isso, o objetivo dos economistas do BC foi procurar avaliar melhor essas três variáveis.

O relatório do BC aponta que a abordagem mais intuitiva é a que destaca que a concentração no setor financeiro determina a conduta dos bancos e também o seu desempenho econômico-financeiro. Ou seja, um mercado de crédito bancário mais concentrado levaria a um maior poder de mercado dos bancos e, assim, a maiores spreads. Mas a avaliação de dados de diferentes países mostra que não há “uma clara associação” entre os spreads e a concentração bancária.

Outra hipótese da literatura é a de que mercados mais competitivos, nos quais os bancos têm menos poder de mercado, deveriam ter menores spreads. E o estudo do BC está mais de acordo com essa hipótese.

“Os resultados encontrados aqui apontam que spreads bancários para empresas estão mais correlacionados com concorrência”, aponta o estudo divulgado nesta segunda, que fez uma análise econométrica com números do setor financeiro brasileiro para buscar conclusões. Foram avaliados mais de 13 milhões de empréstimos de bancos privados de 2005 e 2016. O spread médio da amostra é de 25,30 ponto porcentual.

“No entanto, ainda existem desafios na identificação da causalidade entre essas variáveis”, alerta a conclusão do relatório do BC, destacando que a instituição pretende continuar fazendo estudos nessa área para entender melhor o mercado bancário brasileiro.