Na tarde da segunda-feira 22, ao saber que policiais federais tinham chegado à sua casa em um condomínio de luxo no município de Cotia, na Grande São Paulo, o ex-banqueiro Luis Octavio Indio da Costa, que estava fora, voltou para ser preso. Não houve resistência. Segundo os agentes, o ex-dono do banco Cruzeiro do Sul, liquidado pelo Banco Central (BC) no dia 14 de setembro, ao receber voz de prisão, apenas levantou os braços e se entregou. No mesmo dia, seu pai, Luis Felippe Indio da Costa, recebeu uma visita da polícia no Rio de Janeiro. Devido aos 81 anos de idade, porém, ele ficará em prisão domiciliar. Também foi pedida a prisão de dois ex-diretores do banco, Horácio Martinho Lima e Maria Luísa Garcia de Mendonça, que pagaram fianças de R$ 1,8 milhão e R$ 1milhão, respectivamente, e permanecem em liberdade. 

 

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Indio da Costa: sem curso superior, foi preso em cela comum no Cadeião

de Pinheiros, em São Paulo

 

As prisões são preventivas, algo que não ocorria com personagens do sistema financeiro desde 2006. O último caso de banqueiro a vestir o pijama listrado envolveu Edemar Cid Ferreira, controlador do Banco Santos. Ferreira foi encarcerado no centro de detenção provisória de Pinheiros, o mesmo que recebeu Luis Octavio, por duas vezes, ambas por períodos de 15 dias, a primeira em maio e a segunda em dezembro. Até a noite da quinta-feira 25, Luis Octavio ainda permanecia na mesma unidade prisional, embora seu advogado, Roberto Podval, tenha entrado com um pedido de liberdade provisória naquela data. Ainda que provisório, o encarceramento dos Indio da Costa representa um endurecimento da Justiça em relação às malfeitorias do primeiro escalão dos bancos. 

 

“Pedimos a prisão dos banqueiros para impedir que eles atrapalhassem o andamento do processo”, diz Karen Louise Jeanette Kahn, procuradora do Ministério Público Federal de São Paulo que solicitou a prisão. “Queríamos evitar que eles intimidassem testemunhas, especialmente funcionários do Cruzeiro do Sul.” Outra justificativa, que consta da petição enviada ao juiz Márcio Ferro Catapani, da 2ª Vara Federal Criminal de São Paulo, foi a tentativa de impedir que os recursos desviados do Cruzeiro do Sul pelos ex-controladores fiquem cada vez mais inacessíveis à Justiça para sua recuperação. 

 

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Em família: o patriarca Luis Felippe Indio da Costa e seu filho, Luis Octavio,

teriam US$ 1 bilhão em contas no Exterior

 

“São pessoas de grande capacidade intelectual, que conseguem manipular o mercado financeiro e realizar fraudes”, diz a procuradora. Procurado, o advogado Roberto Podval não falou com a DINHEIRO. As estimativas preliminares, não confirmadas pela procuradora Karen, são de que US$ 1 bilhão tenha sido desviado do banco e esteja escondido em paraísos fiscais ou registrados em nome de laranjas. Para a Justiça, deixar a tribo à solta aumentaria os riscos de que esse dinheiro sumisse de vez. Ainda será preciso uma longa investigação para que o total subtraído dos acionistas e correntistas do Cruzeiro seja calculado e, eventualmente, recuperado.