Escolhido para chefiar a Secretaria de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, o empresário mineiro Salim Mattar, fundador da Localiza, tem a responsabilidade de se aproximar o máximo possível do objetivo de R$ 1 trilhão em privatizações. Na semana passada, Paulo Guedes, ministro da Economia, afirmou que, se dependesse apenas dele, todas as estatais seriam vendidas. Como isso seria muito improvável, a estratégia é avançar passo a passo. Mattar respondeu à DINHEIRO como pretende fazer isso e afirmou que a meta de US$ 20 bilhões em desestatizações este ano será atingida já em agosto, com a venda da Liquigás.

DINHEIRO – Quais são os próximos passos das privatizações, após a venda do controle da BR Distribuidora ter sido realizada? Que ativos podem chamar mais atenção dos investidores privados?

SALIM MATTAR – Não temos uma lista fechada de empresas que deverão ser privatizadas. Há diversas empresas caminhando, e à medida que cada uma estiver pronta, nós vamos divulgar ao mercado. É importante lembrar que, de acordo com regras de mercado, alguns negócios não devem ser previamente anunciados. É importante ressaltar que antes de iniciar o processo de privatização, teremos de fazer a reorganização de algumas empresas. Estamos fazendo um trabalho de reorganizar, reestruturar, preparar essas empresas para que sejam um ativo de melhor qualidade para o mercado. E, em alguns casos, há necessidade inclusive de revisão de leis ou arcabouço legislativo devido a atividades monopolísticas previstas em lei. Para este mês, a Petrobras irá se desfazer de 100 % da Liquigás. A empresa também já anunciou o desinvestimento de oito das suas 13 refinarias. Em 15 de julho, a companhia iniciou a fase não vinculante referente à primeira etapa da venda de ativos em refino e logística associada no País, que inclui as refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, Landulpho Alves, na Bahia, Presidente Getúlio Vargas, no Paraná e Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul. Ainda neste ano também deverão ser divulgados os teasers da segunda etapa, que compreendem a Refinaria Gabriel Passos, Refinaria Isaac Sabbá, Unidade de Industrialização do Xisto (SIX) e a Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor), bem como os ativos logísticos correspondentes.

A meta de US$ 20 bilhões para 2019 pode ser atingida com traquilidade?

A meta de US$ 20 bilhões deverá ser atingida já neste mês com a privatização pela Petrobras da Liquigás. As ofertas vinculantes finais devem ser enviadas no dia 7 de agosto. Então, sim. Atingiremos a meta com tranquilidade e deveremos, inclusive, ultrapassar.

Com a Previdência avançando, o ritmo de privatizações vai aumentar?

O processo de privatização será feito de forma cuidadosa, gradual e constante, buscando maximizar o valor para o pagador de impostos. Nós temos que ser cuidadosos com todas as nossas desestatizações, de forma que agregue valor, pois estamos zelando pelo dinheiro do pagador de impostos.

Qual o ritmo de vendas possível para fazer esses processos sem inundar o mercado com ativos?

O governo possui estatais que atuam nos mais diferentes setores da economia. Algumas serão extintas por inviabilidade econômica e por não terem interessados no mercado, como foi o caso da BBTUR. Outras poderão ser fundidas com empresas similares. Existem empresas que serão reestruturadas antes de serem colocadas no mercado e isso pode levar um bom tempo. As estatais que eventualmente forem a mercado deverão ser de distintos setores e bem provavelmente não concorrerão entre si. Apenas um simples exemplo: um porto não concorre com uma empresa de cartão de crédito. Cada ativo possui seus próprios interessados. Está previsto um forte ingresso de capital estrangeiro na bolsa brasileira e será um momento oportuno para trazer novos ativos ao mercado.

Como as empresas privatizadas podem ganhar com esses processos, em termos operacionais e de rentabilidade?

As estatais são, em sua maioria, excelentes ativos. Após os processos de privatizações terão absoluta liberdade em sua administração. O mercado privado possui melhores executivos e conselheiros. A remuneração também é melhor e deixa as amarras típicas de estatais que necessitam seguir certas leis e procedimentos que prejudicam a sua administração. Normalmente a empresa privada é mais ágil e flexível que a empresa estatal. Cada estatal vendida amplia a competição no mercado o que é bom para todos e principalmente para os consumidores.

Quando faz sentido optar por oferta primária ou buscar compradores do controle? Há alguns impedimentos regulatórios que dificultam a segunda opção?

Cada caso será um caso. Não deve existir uma regra única para todos os ativos. O mercado possui uma grande sofisticação e segmentação. Certos negócios poderão ter no IPO a melhor opção. O IPO poderá ser minoritário ou de controle. Vai depender de cada ativo, da demanda de mercado e da estratégia de desinvestimentos do governo.
Em certos casos haverá necessidade de lei específica como, por exemplo, a quebra do monopólio da Casa da Moeda, caso esta venha a ser levada ao mercado. O mesmo se aplicaria aos Correios. São apenas exemplos aleatórios.