20/08/2019 - 16:55
O diretor-geral brasileiro de Itaipu, general Joaquim Silva e Luna, disse que uma solução para o problema da contratação da potência da usina deve sair no curto prazo. “Estamos chamando de curto prazo, para não colocar uma expectativa de data, porque essa é a intenção da Eletrobras e da Ande. O tema está sendo tratando em nível técnico”, disse ele, em entrevista coletiva na sede da empresa.
Em pleno mês de agosto, as estatais Eletrobras e Ande ainda não chegaram a um acordo sobre a contratação da potência da usina neste ano. As negociações entre as empresas foram retomadas nesta semana.
Desde fevereiro, uma parcela do faturamento da energia produzida por Itaipu está em aberto desde fevereiro. Segundo Silva e Luna, embora Itaipu não tenha tido problemas para honrar seus pagamentos até agora, a situação se assemelha a um contingenciamento de recursos.
O diretor-geral não informou os números, mas a reportagem apurou que o valor em aberto é de cerca de US$ 50 milhões. Itaipu fatura cerca de US$ 3 bilhões por ano, mas opera em regime de custo – ou seja, não há lucro, mas apenas cobertura de custos de serviço da dívida, operação e manutenção e royalties.
“Há uma parcela pequena que nós estamos chamando de energia controversa. É um valor menor, que não está sendo reconhecido, mas que não afeta a vida orçamentária e financeira da usina. Estamos tentando resolver isso. Quanto mais cedo for resolvido, melhor”, afirmou.
Silva e Luna reconheceu que alguns compromissos podem deixar de ser honrados caso a situação perdure até o fim do ano. “Logicamente, se isso prosperar até o fim do ano, vai afetar. Seria mais ou menos como se houvesse um contingenciamento, como acontece no orçamento federal. Algum compromisso nosso teria que deixar de ser honrado”, disse.
O Tratado de Itaipu estabelece que toda a potência da usina deve ser contratada pelo Brasil e pelo Paraguai. Historicamente, o Brasil consome 85% da energia da usina, e o Paraguai fica com os 15% restantes.
Com o crescimento econômico do Paraguai nos últimos anos, a demanda por energia tem crescido, mas, para evitar aumentar as tarifas, o país vizinho tem mantido sua contratação inalterada. Neste ano, foi a primeira vez que as empresas não chegaram a um acordo sobre o tema, e a discussão foi liderada pelos ministérios de relações exteriores.
Um acordo formalizado por meio de uma ata estabeleceu uma curva ascendente de contratação de potência pelo Paraguai até 2022. Os termos do documento, porém, geraram uma crise que derrubou diversas autoridades do país e ainda ameaçam o governo de Marito – como é conhecido o presidente.
A ata acabou sendo anulada pelo Paraguai, mas a crise ainda não foi resolvida. Silva e Luna reconheceu que as negociações levam em conta a proximidade entre Marito e o presidente Jair Bolsonaro.
“A relação entre Brasil e Paraguai é importante para todos nós. Sabemos que existe uma relação bem próxima entre os dois presidentes. Qualquer coisa que desestabilize isso nos deixa desconfortável”, disse. “Aguardamos a decisão e temos certeza de que, pelo vínculo que existe entre Brasil e Paraguai, será resolvido no curto prazo.”
Indicações políticas
Silva e Luna completa na quarta-feira seis meses à frente da gestão de Itaipu. Desde que assumiu, todos os cinco diretores brasileiros foram substituídos. “São pessoas com viés e competência técnica. Isso nos livrou de qualquer vinculação ou influência de qualquer natureza”, disse.
Dos cinco novos diretores, dois são funcionários de carreira da usina – Celso Torino, diretor técnico executivo, e Mariana Thiele, diretora jurídica. “Formamos uma equipe muito forte, tivemos um ganho de austeridade e enxugamos custos”, disse.
Silva e Luna destacou ainda que o remanejamento de gastos proporcionou recursos para o início das obras de uma nova ponte entre Brasil e Paraguai, além de investimentos em um hospital mantido pela usina na região e reformas na pista e pátio de manobras do aeroporto de Foz do Iguaçu.