31/08/2019 - 12:20
A queda da desocupação pelo aumento expressivo da informalidade em todo o País no trimestre encerrado em julho pode ser o prenúncio de que o trabalho com carteira assinada deve voltar a crescer em breve, segundo avaliação do economista e professor sênior da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Hélio Zylberstajn.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo IBGE ontem mostram que a taxa de desemprego recuou entre maio e julho, para 11,8%, mas isso aconteceu pelo aumento da informalidade, que bateu novo recorde.
“Os trabalhadores informais estão prestando serviços, contribuindo para o crescimento do nível de atividade e também estão podendo consumir mais. As empresas tendem a contratar formais quando a atividade cresce”, avalia o economista, que também é coordenador do projeto Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). A seguir, trechos da entrevista.
Os dados de ocupação do trimestre encerrado em julho mostram um cenário mais otimista do que o do começo do ano?
Sim. Eles mostram que a ocupação cresceu de maneira acelerada no trimestre. Se a gente pensar que, nos últimos 12 meses encerrados em julho a ocupação cresceu 2,2 milhões, o crescimento do trimestre encerrado em julho representa 55% do crescimento dos últimos 12 meses. O ritmo foi impressionante. Se o que aconteceu nesses três meses se repetir por três trimestres, serão 4,9 milhões de pessoas a mais ocupadas. Não seria prudente dizer que esse ritmo vai se repetir daqui para frente, mas é tudo que o País precisa.
Mas a informalidade bateu novo recorde no trimestre.
Sim, esta é a notícia ruim. Estamos presenciando uma explosão sem precedentes da informalidade, é como se o mercado de trabalho brasileiro tivesse experimentado um trimestre indiano, com a grande maioria de novos postos sendo informais, como é na Índia.
Esses recordes seguidos de aumento da informalidade são motivo de preocupação?
Em um primeiro momento, sim, mas essa explosão da informalidade pode ser um prenúncio de crescimento da formalidade. Os trabalhadores que não conseguiram uma ocupação formal partiram para informalidade e estão conseguindo sobreviver. Eles estão prestando serviços, contribuindo para o crescimento do nível de atividade e também estão podendo consumir mais. Esse pode ser um prenúncio de aumento da formalidade em seguida, as empresas tendem a contratar formais quando a atividade cresce. Só não sabemos em que ritmo isso vai ocorrer.
Desses 1,2 milhão de novos ocupados, metade estava desocupada e voltou ao mercado e a outra metade veio da desocupação que não é explícita, como os desalentados que tinham desistido de buscar trabalho e agora tomaram coragem e voltaram ao mercado, ainda que estejam informais.
As pessoas também estão ganhando menos, já que o rendimento médio real dos trabalhadores caiu 1%. Isso também é um reflexo da informalidade?
Se olharmos a curva da Pnad, quando se volta a empregar depois de uma crise, o rendimento médio cai. As pessoas agradecem só por ter ocupação, mesmo ganhando menos.
Por isso ainda vemos um número crescente de pessoas que são qualificadas, mas estão em ocupações de baixa qualificação?
Exato. O trabalhador olha em volta, para a situação dos vizinhos, dos primos e amigos e vê que uma grande parte deles está desempregada. Ele vai aceitar salários menores, condições de trabalho mais duras. Só quando o emprego voltar a crescer, a massa de crescimento vai voltar a crescer também. Quando as contratações formais aumentarem, o mercado vai voltar a pagar mais.
Os resultados do PIB no segundo trimestre mostraram um avanço da construção civil, de 1,9%. Isso pode dar um alívio no mercado de trabalho?
É, sem dúvida, um sinal muito positivo. O crescimento da construção civil significa emprego na veia, é um setor que emprega muitas pessoas e, geralmente, trabalhadores de baixa qualificação. Se o setor tiver condições de se recuperar, pode dar trabalho a muitos trabalhadores mais jovens e com baixa experiência.
O governo tem agido para tentar reduzir o desemprego? O presidente Jair Bolsonaro disse recentemente que o governo não pode gerar empregos, a menos que faça concursos públicos.
Essa lógica não faz sentido. É verdade que as condições fiscais não deixam o governo contratar. Hoje, as repartições públicas estão apagando as luzes no fim da tarde e o governo está cortando gastos para cumprir o seu teto. Mas o que se espera do Estado não é fazer novos concursos públicos, mas que tenha políticas para gerar empregos indiretamente.
Como resolver essa questão?
O governo pode ajudar a criar empregos não só quando investe diretamente, mas também quando facilita o crédito para financiar empresas e dá condição para que elas contratem mais empregados. Se o governo não tem condições de investir agora e a política pública vai no sentido de cortar gastos, o setor privado é que precisa sair do desalento.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.