24/09/2019 - 18:04
O mercado de juros deu nesta terça-feira sequência ao movimento de realização de lucros visto na segunda e as taxas longas fecharam com avanço moderado, refletindo o desconforto do mercado com o adiamento da votação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para a próxima semana e o ambiente externo negativo. As taxas curtas encerraram perto da estabilidade, mas com viés de alta. A ata do Copom veio dentro do esperado, com poucas alterações em relação ao comunicado da reunião, mas, com o dólar persistindo nos últimos dias acima dos R$ 4,10, alguns profissionais acreditam que, pela leitura do cenário híbrido do Banco Central, uma Selic muito abaixo de 5% no fim do ciclo de afrouxamento pode ser uma aposta excessivamente otimista.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 5,03%, de 5,009% na segunda no ajuste, e o DI para janeiro de 2023 passou de 6,13% para 6,15%. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 6,79%, de 6,741%.
Logo após a abertura, pautada pela ata do Copom, as taxas passaram a etapa inicial dos negócios oscilando em torno dos ajustes, mas no meio da manhã começaram a subir. Os investidores reagiram mal ao adiamento da votação da reforma na CCJ do Senado, que era esperada para esta terça mas ficou para a semana que vem, assim como a votação no plenário da Casa. A medida foi uma resposta à operação da Polícia Federal que teve o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), como alvo na semana passada. “Isso, juntamente, com o discurso de Trump atacando a China, acabou por favorecer a alta do dólar e pesou na curva, pela piora da percepção de risco”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
A postergação da votação não abalou a confiança em torno da aprovação da proposta, mas trouxe um sinal de alerta de que a tramitação parece que não será tão simples quanto parecia logo depois que o texto passou na Câmara.
No exterior, a aversão ao risco foi crescendo ao longo o dia. A cautela veio de várias frentes, entre elas o discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no qual voltou a atacar a China e, à tarde, a possibilidade de o Congresso norte-americano abrir um processo de impeachment contra Trump. Internamente, a ata do Copom foi o destaque da agenda e reiterou a mensagem do comunicado de que a Selic deve ser reduzida em mais 0,5 ponto porcentual na próxima reunião e de que há espaço para ir abaixo de 5% no fim do ciclo de afrouxamento monetário. Porém, em função do cenário híbrido do BC, agora há maior reticência sobre as chances de ir a 4,50% por exemplo, se o dólar romper os R$ 4,20. O cenário híbrido, que considera Selic da pesquisa Focus de 5,0% e dólar constante a R$ 4,05, aponta IPCA de 3,8% em 2020, abaixo da meta de inflação de 4%.