Um diagnóstico da Medial Saúde de alguns anos atrás apontaria uma empresa com a saúde em dia, mas padecendo de alguns males típicos de gestões familiares. As decisões eram lentas, os feudos internos prejudicavam a comunicação entre departamentos e os funcionários não viam perspectivas de ascensão. Os efeitos foram se tornando visíveis com o passar do tempo. Embora não apresentasse problemas financeiros, a empresa crescia lentamente, em um ritmo menor do que os dos concorrentes. Antes que o quadro clínico se tornasse mais grave, os acionistas aplicaram o remédio clássico para essas situações: a profissionalização. O dia-a-dia foi entregue a executivos e os sócios recolheram-se a um conselho de administração. Agora, familiares não podem mais trabalhar na empresa. A Medial assumiu a postura e o funcionamento de uma companhia de capital aberto, inclusive com a publicação de balanços trimestrais. ?Sabíamos que o setor seria desrregulamentado?, diz Maurício Ceschin, presidente da Medial. ?A sobrevivência dependeria de ganhos de eficiência que fossem visíveis para os clientes, o governo e os parceiros em geral.?

Os resultados começaram a aparecer. Nos últimos quatro anos, o faturamento da empresa quase dobrou e atingiu R$ 293 milhões em 2000. No mesmo período, o número de usuários saltou de 343 mil para 504 mil. A empresa passou do 7º para o 3º lugar no ranking do setor. O desempenho coloca a Medial na contramão do mercado de planos de saúde, marcado pelas dificuldades financeiras das empresas do setor.

Por trás das mudanças, há um plano ambicioso. Em alguns anos, a Medial pretende vender um pedaço do capital para um grupo estrangeiro, de preferência do mesmo setor. ?Nosso interesse é por alguém que dê contribuições em nossa área de atuação?, diz Ceschin. Seria um passo decisivo na profissionalização de uma organização fundada em 1964 por quatro médicos, a partir de uma clínica no bairro paulistano de Moema. O crescimento, nas primeiras décadas, foi acelerado. Cada um dos acionistas cuidava de uma área da empresa, sem interferência dos demais. Assim, o surgimento de feudos tornou-se inevitável. A exigência de unanimidade provocava lentidão nas decisões ? isso quando elas eram tomadas.

Para superar as dificuldades, a gestão foi entregue a Ceschin, um médico que se especializou em administração hospitalar. Ceschin é o quinto membro do conselho, presidido agora por sua mais nova integrante, Simone Wajman, filha de um dos fundadores. Em algum tempo, dois profissionais de outras empresas se unirão ao grupo. ?Queremos agregar novas experiências à nossa atividade?, diz Simone. A Medial investiu em um programa de qualidade e na modernização de hospitais (veja quadro abaixo). Para dar mais agilidade ao atendimento, criou centros médicos, onde 90% dos casos são resolvidos sem a necessidade de visitas a hospitais. Uma série de indicadores, como duração de consulta, número de exames, índice de retorno e queixas de clientes, foi desenvolvida para avaliar os médicos contratados e conveniados.

Remédio tecnológico

 
  

A tecnologia tornou-se aliada da Medial em sua ascensão no ranking. Seu principal hospital, o Alvorada, recebeu US$ 50 milhões de investimento em equipamentos e ampliação das instalações. Outros US$ 10 milhões são aplicados na unificação dos bancos de dados. ?Assim, as fichas de clientes estarão disponíveis em todos os pontos de atendimento?, diz Maurício Ceschin.