03/11/2019 - 16:13
Professores e coordenadores de cursinho consideraram “simples e neutro” o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, que tem como proposta a “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”. A prova teve início neste domingo, 3. Além da dissertação, os candidatos respondem a 90 questões de Linguagens e Ciências Humanas. O tema da redação foi divulgado pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, nas redes sociais poucos minutos após o início da prova. Como os textos de apoio ainda não foram oficialmente divulgados, não é possível saber qual é o encaminhamento sugerido para a dissertação.
Com a primeira informação divulgada, professores e coordenadores de cursinho consideraram simples o assunto abordado pela prova e próximo à realidade de parte dos candidatos. Para Maria Catarina Bozio, coordenadora de Redação do Poliedro, o tema não surpreende. “É um tema bastante específico, por restringir a questão da cultura apenas ao cinema. É um assunto que pode ser fácil para o aluno desenvolver, já que é próximo dos candidatos. Eles são os grandes usuários de serviços de streaming de vídeos e mesmo do cinema tradicional”.
Ela lembra, no entanto, que a “democratização” do cinema pode ser questionada, já que a maioria das cidades do País possui um acesso bastante restrito. “Pensando em quem está no interior, são muitas pessoas que moram em cidades com poucas opções ou sem nenhuma sala de cinema. O assunto pode ser bem explorado, pensando em capital cultural, por exemplo. O aluno pode abordar os conteúdos de Filosofia e Sociologia que aprendeu no ensino médio.”
Adriano Chan, professor de redação, também destacou que o número restrito de salas de exibição em municípios menos populosos e o preço médio do ingressos pode ser abordado pelos candidatos. “Para desenvolver os argumentos, é possível falar da indústria cultural, conceito de Adorno e de Horkheimer, que prega como até as obras de arte passam a ser feitas em série para atender à demanda de consumo numa lógica de mercado, excluindo os menos favorecidos.”
Para a professora Juliana Fernandes, do Sistema COC, o tema da redação deste ano reafirmou a tendência de anos anterior com abordagem de cunho social. Contudo, ela avalia que o tema desta edição pode ter surpreendido os alunos, ainda que não seja uma proposta complexa.
“Assim como há alguns anos, o Enem vem colocando temas pra gente ter um olhar diferente para a sociedade, pensando principalmente que querem que uma minoria seja olhada. Eu acredito que esse vai ser mais fácil. Quando teve a questão da surdez (2017), uma minoria tem acesso e contato com pessoas surdas. Não vive com essa realidade. Quando coloca a questão do algoritmo (2018), os jovens até usam o celular, mas não param pra pensar sobre isso. Mas o cinema é uma realidade comum desde criança”, avalia Juliana.
Os professores também destacam que o tema se aproxima de polêmicas recentes do governo federal, como as acusações de censura a determinados tipos de obras ou a ameaça de extinção da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Juliana lembra que as críticas são pertinentes, desde que feitas de forma respeitosa, mas ela destaca o risco de “tangenciamento” ao tema. “Não tem problema falar da questão política. Só tem que ter cuidado para não tangenciar e o modo como fala também. Existe uma questão que é como vai construir uma crítica.”
Os professores destacaram que outra maneira de abordar o assunto de forma menos óbvia é argumentar sobre a possibilidade de o cinema se difundir mais com os serviços de streaming, como o Netflix. “Na minha opinião, há duas formas de abordar o tema: ampliação das mídias para se ter acesso à produção cinematográfica e não necessariamente às salas físicas. A Netflix, por exemplo, como muitas pessoas têm optado na hora de consumir esse tipo de conteúdo”, diz Maria Aparecida Custódio, do colégio e cursinho Objetivo.
“O tema pode ser uma oportunidade para tratar da linguagem cinematográfica, cada vez mais rápida e global. Também pode ser abordado o quanto a linguagem audiovisual pode ser importante para conscientizar e educar a sociedade atualmente”, diz Carol Achutti, professora de redação do Descomplica.