No mundo das embarcações, nenhum momento é cercado de tanta expectativa quanto o da inauguração de um transatlântico. Ainda mais quando ele supera em tudo aqueles que o precederam. Tal celebração é conhecida pelo termo em inglês “Christening Cerimony” e tem como ponto alto o instante em que a madrinha do navio corta a fita que simboliza o atracamento em terra firme. Fita cortada, o barco pode enfim cumprir sua missão de singrar os oceanos. No início da noite de 9 de novembro, um sábado, a lenda do cinema italiano Sophia Loren, de 85 anos, cortou a fita do MSC Grandiosa, o 17º e maior navio de cruzeiros da também italiana MSC — Mediterranean Shipping Company, empresa líder global do setor, com faturamento anual de 25 bilhões de euros. Ao lado direito da madrinha, o jovem capitão Marco Massa dava-lhe a mão para segurar a mesma tesoura. À esquerda estava Gianluigi Aponte, fundador da MSC, companhia familiar que hoje opera uma frota de mais de 510 navios (a maioria cargueiros), com 480 escritórios em 150 países, empregando 24 mil funcionários.

MADRINHA A atriz Sophia Loren, entre o capitão Marco Massa e o fundador da MSC, Gianluigi Aponte, ao cortar a fita azul na inauguração do Grandiosa (foto ao topo) (Crédito:Divulgação)

Do lado de fora do MSC Grandiosa, além da habitual queima de fogos que acompanha batizados do tipo, as margens do Rio Elba, incluindo a monumental sede da Elbphilarmonie (a orquestra filarmônica local) brilhava com uma iluminação especial em tons de azul, concebida pelo artista visual Michael Batz. Lentamente, a embarcação deixava o cais para seu passeio inaugural pela zona portuária de Hamburgo, enquanto os passageiros se deleitavam com o jantar de gala elaborado pelo chef alemão Harald Wohlfarht, detentor de três estrelas do Guia Michelin. Na manhã seguinte, todos cruzariam o Mar do Norte em direção a Southampton, na Inglaterra.

LUXO O Infinity Atrium, cujas escadas tem degraus com cristais Swarovski e a Promenade com teto de LED onde estão as lojas de grife e restaurantes (Crédito:Divulgação)

A razão de tanto capricho na cerimônia de inauguração do MSC Grandiosa se deve ao que ele representa. Construído em um estaleiro francês ao custo de € 1 bilhão, o navio não só é o maior da frota até agora como lança uma nova fase de expansão da companhia, com investimentos de 11,6 bilhões de euros até 2028, quando o número de passageiros transportados saltará dos atuais 3 milhões para 5,5 milhões. Aumentar a clientela em 83% nesse período pode parecer uma meta ambiciosa, mas é perfeitamente factível quando se observa os números obtidos até aqui. Nos últimos 15 anos, o faturamento cresceu 800%. “Nosso crescimento tem sido orgânico e baseado na busca de oportunidades a partir de um conceito: superar as expectativas dos clientes seja qual for seu lifestyle”, afirmou à DINHEIRO o CEO da MSC Cruises, Gianni Onorato (leia a entrevista ao final da reportagem).

Por marcar o início de uma nova era na frota da empresa — a dos navios de categoria “Meraviglia Plus-class” — o MSC Grandiosa chega cercado de inovações. Uma delas é a assistente virtual Zoe, presente em cada cabine e programada para responder 850 perguntas nos sete idiomas oficiais a bordo (o português é um deles). Basta dizer “Ok, Zoe” que ela estará ao seu dispor para tirar dúvidas sobre os serviços disponíveis a bordo, informar o local e horário de cada refeição, agendar uma entre as várias opções de entretenimento e até tirar curiosidades sobre as dimensões e características do navio, como as que estão resumidas no infográfico em destaque. Além da Zoe, totens espalhados pelas áreas de circulação e até a smart TV da cabine ajudam os passageiros a se orientar e a programar as atividades desejadas, como reservar o ingresso para um dos oito espetáculos encenados diariamente no Teatro La Comédie, com 975 assentos em uma área de 1 mil metros quadrados. “Os espetáculos são um dos pilares da MSC, ao lado da gastronomia”, diz Gary Glading, diretor global de entretenimento. “Nossos shows vão muito além do tradicional e têm os mais avançados recursos audiovisuais para proporcionar momentos únicos na jornada do hóspede”.

TUDO AZUL Para celebrar a inauguração do MSC Grandiosa, Hamburgo ganhou iluminação cenográfica, que incluiu a sede da Filarmônica, ao fundo (Crédito:Divulgação)

CIRQUE DU SOLEIL As atrações mais aguardadas, evidentemente, são as duas novas montagens do Cirque Du Soleil at Sea, Cosmos e Exentrics, encenadas no lounge Carousel, uma arena que coloca o público em contato direto com os artistas em um nível de interatividade inédito. A diversão inclui dois simuladores de Fórmula 1, cinema interativo e até um estúdio de TV onde são gravados episódios de uma série estrelada por hóspedes adolescentes. Para os mais velhos, há ainda o cassino.

MÚSICA, COMIDA E BEBIDA Artistas se revezam em apresentações nos diversos palcos a bordo. Para as refeições, o navio tem 12 opções de restaurantes além de 21 bares e lounges (Crédito:Divulgação)

Como em todo navio de cruzeiro, boa parte do tempo a bordo é desfrutada em bares e restaurantes — coisa que não falta no MSC Grandiosa. São 12 restaurantes e 231 bares e lounges. As opções gastronômicas incluem diversas especialidades temáticas: além do Hola! Tapas Bar, comandado pelo chef espanhol Ramón Freixa (duas estrelas Michelin), há um bistrô francês, um asiático e uma steakhouse. Em ambientes mais tradicionais, outros restaurantes dedicam-se a frutos do mar e à cozinha internacional. Por fim, o Marketplace, bufê que funciona 20 horas por dia, serve um pouco de tudo, inluindo pizzas e hambúrgueres.

Cervejas dos mais variados estilos saem das torneiras do pub Master of the Sea, enquanto curiosos drinques defumados são servidos no Sky Lounge, onde o jazz acústico é a trilha sonora oficial. Música boa e ao vivo também não falta no Infinity Atrium, um espaço de pé direito triplo ladeado por escadas com cristais Swarovski que conduzem ao Champagne Bar.

CABINE Uma das opções de acomodação com terraço. O privativo Yacht Club oferece duas suítes Royal, com 56 m2 cada e mordomo 24 horas (Crédito:Divulgação)

Em outro palco, contíguo ao Grandiosa Bar, bandas se alternam tocando hits de todos os tempos. Escolha seu ambiente favorito e peça uma bebida — elas podem ser compradas antecipadamente em pacotes que se adéquam ao bolso e à sede de cada hóspede. Se álcool não for a sua onda, o cardápio de cafés e chocolates quentes do chef Jean-Philippe Maury há de ser. É impossível resistir às tentações que ele prepara ali mesmo com matéria-prima trazida da França.

DIVERSÃO E RELAX Na esq., o teatro com 975 lugares; ao centro, o Aurea, maior spa de navio do mundo; à dir., detalhe do Acquapark (Crédito:Divulgação)

Exagerou na bebida? O mar parece balançar demais? Que tal relaxar em uma das piscinas de hidromassagem do Safari Pool? Ou talvez seja a hora de agendar uma terapia no spa Aurea, com 15 novos tratamentos exclusivos e uma área termal com saunas, duchas e banhos relaxantes. Se nada disso resolver, um centro médico está à disposição para resolver qualquer sintoma mais severo. Afinal, ninguém merece desperdiçar um segundo sequer das férias em alto mar, seja qual for a ideia de lazer que se encaixa em seu estilo de vida. Para os mais abastados, o MSC Grandiosa tem uma ala exclusiva, o Yacht Club. São 95 suítes, duas delas de altíssimo luxo, em um setor restrito na proa da embarcação com lounge e restaurante exclusivos, serviço de concierge e mordomo 24 horas. “Este é o terceiro navio da MSC que oferece o Yacht Club, que permite ao hóspede de alto padrão mais privacidade e sofisticação, ao mesmo tempo em que ele pode desfrutar de todo o lazer do navio de cruzeiro”, afirma Adrian Ursili, country manager da empresa no Brasil.


Resíduos que viram escolas

Alinhado ao compromisso da MSC com a sustentabilidade, o Grandiosa traz novidades que ajudam a reduzir substancialmente seu impacto ambiental. O navio é o primeiro de sua classe a ser equipado com um catalisador que elimina 90% das emissões de óxido de nitrogênio, além de um sistema de limpeza de gases de escape em circuito fechado que reduz 97% das emissões de enxofre. Outro sistema inédito neutraliza parte do ruído da hélice, que habitualmente afeta os mamíferos marinhos que se orientam por sonar. A reportagem da DINHEIRO visitou as estações de tratamento de água e de reciclagem de materiais coletados seletivamente no navio e estocados em câmaras frias.

Compactadores de papel, plástico e alumínio, além de trituradores de vidro entram na primeira fase do processo, que continua em terra. Parte do material é transformado em um tipo de tijolo plástico, usado na construção de escolas na África em parceria com o Unicef, braço das Nações Unidas para a educação. O programa é um dos oito de caráter socioambiental sob o guarda-chuva da MSC Foundation, organização sem fins lucrativos lançada a bordo do Grandiosa, no dia 8 de novembro, com o propósito de ampliar o alcance das iniciativas humanitárias que a companhia já realiza.


“O Brasil é um mercado estratégico”

Divulgação

Gianni Onorato, CEO da MSC Cruises

O Grandiosa custou € 1 bilhão. Qual a previsão de retorno desse investimento?
Normalmente uma boa operação leva de 7 a 8 anos para se pagar.Nossos investimentos correspondem ao crescimento da demanda por cruzeiros em todo o mundo. A penetração dessa indústria está na faixa de 2% dos turistas globais — exceto nos Estados Unidos, que é o mercado mais maduro. Há um imenso potencial de crescimento. Nós percebemos as oportunidades e nos antecipamos à concorrência, assegurando o fornecimento de novas embarcações nos poucos estaleiros capazes de atender a nossas encomendas.

A MSC cresceu 800% nos últimos 15 anos de forma orgânica. É possível manter esse mesmo ritmo?
Nosso planejamento prevê 5,5 milhões de passageiros ao ano em 2028. Hoje são 3 milhões. Alcançar essa meta será possível devido a uma combinação de fatores. Sendo uma companhia cujo alvo é o mercado global, estamos em permanente evolução para superar as expectativas de todos os perfis de clientes que pudermos atrair com nossos produtos.

Isso inclui a aquisição de navios menores e mais luxuosos…
Estamos usando nossa expertise global para ajustar a oferta de novos produtos às necessidades de cada mercado. O segmento de luxo é uma demanda crescente nos Estados Unidos e em países do norte da Europa. Nossa indústria é pequena, com poucos competidores, então há espaço para que todos cresçam em vários segmentos.

Qual a importância do mercado brasileiro para a MSC?
Estamos muito felizes com a maneira pela qual o mercado brasileiro responde à nossa estratégia. Entre todas as nacionalidades que recebemos a bordo dos nossos navios, os brasileiros somam hoje cerca de 10% dos clientes. É um número importante — e um mercado estratégico para a MSC. Sabemos que o interesse por nossos cruzeiros tem aumentado ano a ano. Muitos brasileiros embarcam primeiro em seu próprio país e depois escolhem destinos internacionais, seja no Caribe, no Mediterrâneo, no Oriente Médio e até na Ásia. Temos brasileiros em todos os nossos navios e isso tende a crescer cada vez mais.

O cliente brasileiro tem alguma peculiaridade?
Eu diria que ele é mais animado. Vai jantar depois das 9 horas da noite, dorme mais tarde e não acorda tão cedo quanto os alemães ou norte-americanos. Hoje conhecemos melhor suas preferências e criamos uma rotina para que sintam-se mais à vontade em nossos cruzeiros.