Na quarta-feira 15, três vigilantes armados e vestindo colete à prova de balas guardavam a portaria principal da gráfica americana RR Donnelley, em Osasco (SP). O local mais parece uma fortaleza. Quem tenta se aproximar é rapidamente detectado pelas câmeras instaladas ao redor do prédio.

Ao perceber a aproximação do fotógrafo da DINHEIRO, um dos seguranças pôs a mão na arma. Apesar de não abrigar obras de arte ou mesmo milhões em cédulas de reais, o prédio guarda um potencial tesouro: o conteúdo das provas da versão 2010 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). 

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Em Osasco: unidade tem forte esquema de segurança

 

Líder mundial do setor gráfico, com receita de US$ 9,8 bilhões em 2009, ela venceu a concorrência para imprimir as provas do Enem no período 2010-2011. Pelo trabalho, receberá R$ 68,8 milhões. Trata-se de um negócio que embute algumas armadilhas. Falhas na segurança da antecessora, a Plural, levaram ao vazamento da prova em 2009 e, ainda hoje, a gráfica luta para melhorar a imagem.

  

Pela natureza de seu negõcio, a RR Donnelley mantém a cultura da discrição quase absoluta. Seus contatos com a imprensa são mínimos. Procurado pela DINHEIRO, Dácio Queiroz, presidente da subsidiária, não quis falar. A extrema discrição não se dá apenas em relação à imprensa. 

 

?Os executivos da empresa praticamente não circulam  no mercado. Eles não abrem as informações e nem sequer participam de associações?, diz Antônio Curi, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Formulários (Abraform). ?Talvez seja uma filosofia ditada pela matriz.?

 

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Na RR Donnelley até os corredores são blindados. Em Osasco, onde são confeccionados documentos de segurança, como provas de concursos públicos, tíquetes-refeição e ingressos, apenas poucos funcionários têm acesso às áreas de impressão. Isso, certamente, contou pontos preciosos na hora da concorrência do Ministério da Educação.

 

O portfólio da empresa também inclui a produção de carnês da Tele Sena do Grupo Silvio Santos. No total, a companhia detém três unidades. As demais ficam em Tamboré (SP) e Blumenau (SC), responsáveis ainda pela impressão de livros, revistas e material promocional. O contrato do Enem chegou em boa hora. É que sua receita teria caído de R$ 318 milhões, em 2006, para R$ 280 milhões, no ano passado, devido à queda nas vendas desencadeada pela entrada em cena da nota fiscal eletrônica. 

 

Para Carlos Monteiro, da CM Consultoria, o contrato com o governo abrirá mais portas para a RR Donnelley no mercado de provas e concursos públicos, que gira cerca de R$ 2 bilhões ao ano. ?O fato, inclusive, de ter socorrido o governo, em 2009, já é um tremendo cartão de visita?, diz o consultor. 

 

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