27/01/2020 - 16:13
Ele sonhava em ser como Michael Jordan e acabou se tornando ele mesmo: Kobe Bryant, um jogador talentoso, mas individualista, admirado e odiado por muito tempo, conquistou o respeito do mundo ao mudar seu comportamento e seu jogo e se tornar um dos maiores jogadores de basquete da história.
13 de abril de 2016: a despedidas em lágrimas de Kobe da NBA foi pela porta da frente. Moribundo em quadra durante boa parte de sua 20ª e última temporada, o astro encontra forças para ter uma grande atuação em sua última partida, apesar do corpo doloroso e cansado, emocionando a torcida no Staples Centers ao marcar 60 pontos na vitória sobre o Utah Jazz (101-96). Uma atuação “à la Kobe”.
Neste contexto, a superação de um ídolo e seu amor pelo esporte ajudaram a polir um pouco mais a imagem de quem era caracterizado principalmente pela inabalável vontade de vencer, um egoísmo frenético e uma arrogância polêmica.
Quando chegou à NBA com apenas 17 anos, sem ter passado pela universidade, Kobe pensava em apenas uma coisa: se tornar um “Michael Jordan”.
E isso ficou evidente assim que entrou na quadra pela primeira vez, mostrando ter se inspirado na maneira de jogar e até nos trejeitos do astro do Chicago Bulls. Suas extraordinárias habilidades ofensivas, que sempre buscava melhorar com muito trabalho duro, e sua frieza nos momentos decisivos dos jogos transformaram Kobe em um clone de Jordan.
Foi assim por um bom tempo. Somente após muitos anos Kobe encontrou seu próprio caminho, construído também por títulos que chegaram muito mais cedo na carreira do que para Jordan, que se tornou campeão da NBA pela primeira vez aos 28 anos.
Formando uma dupla demolidora -em todos os sentidos- com o pivô Shaquille O’Neal, seu “melhor inimigo”, Kobe foi campeão pela primeira vez aos 22 anos. Aos 24, já tinha três troféus, dominando a NBA entre 2000 e 2002 sob o comando do técnico Phil Jackson.
– “Imortal ofensivamente” –
“Ele joga um esporte individual disfarçado de equipe”, escreveu mais tarde o técnico em sua autobiografia chamada “Eleven Rings”, ao admitir que não conseguiu mudar a personalidade individualista de Kobe.
Nos Lakers, a batalha de egos continuou a todo vapor. “Eu falei para os caras (da equipe) que ia matá-lo”, declarou O’Neal, que também tinha personalidade forte, em sua autobiografia.
Depois da derrota nas finais da NBA de 2003 contra o Detroit Pistons, as críticas foram duras contra Kobe, acusado de egoísmo, de querer tomar todas as decisões e arremessos, apesar de um aproveitamento ruim dentro da quadra de 35%.
Após este fracasso, O’Neal foi jogar no Miami Heat, enquanto Phil Jackson se aposentou. Sem as duas referências controladoras, Kobe se viu livre de qualquer restrição em quadra, o que culminou na partida em que marcou 81 pontos, em 22 de janeiro de 2006 contra o Toronto Raptors.
Estas façanhas individuais, porém, só lhe renderam um prêmio de Jogador Mais Valioso da temporada, em 2008, o que mostra uma certa resistência dos especialistas com o jogo individualista de Kobe em um esporte coletivo.
Kobe, que tentou 26.200 arremessos em sua carreira, um recorde na história da NBA, compreendeu que precisava mudar. E essa mudança ganhou a forma da “Mamba Negra”, este apelido que ele mesmo adotou após ver um filme de Bruce Lee, no qual o astro das artes marciais e do cinema diz: “Menos é mais”.
Kobe entende então que precisa purificar seu jogo e, com Phil Jackson novamente no comando dos Lakers, finalmente aceita dividir os holofotes com os companheiros, como o pivô espanhol Pau Gasol, famoso por seu jogo altruísta.
O resultado desta mudança é refletida em quadra e Kobe consegue somar mais dois títulos ao currículo (2009, 2010). Mas as lesões que se seguiram (ruptura do tendão de Aquiles, fratura no joelho) fizeram de seu fim de carreira uma agonia lenta.
Em relação ao lugar de Kobe no panteão do basquete, LeBron James, que o superou no sábado (26) como terceiro maior cestinha da história da NBA, resumiu perfeitamente: “Ele não teve falhas em seu jogo. Foi imortal ofensivamente devido a sua técnica e sua ética de trabalho”.