27/01/2020 - 19:46
Essa é a “pergunta inconveniente” que mais tenho feito nas últimas semanas para acionistas, CEOs e executivos da maioria das empresas com as quais tenho o privilégio de trabalhar como consultor. Ocasionalmente, também lanço uma variante menos incômoda e um pouco mais elegante: “Qual o prazo de validade da sua empresa e do seu atual modelo de negócios?”
Alguns dizem estar preocupados e suspeitam que mudanças devem ser feitas no “curto prazo”, até 2022, pois suas empresas já passaram pela porta da UTI e não desejam voltar. Outros argumentam que conseguirão resistir um pouco mais e precisam iniciar uma transformação até 2025. Muitos sentem-se tranquilos e, embora reconheçam a necessidade de alguns ajustes, acreditam que superarão os desafios inerentes ao negócio durante a travessia rumo a 2030. Já os super sinceros dizem simplesmente: “Não sei!”
Aos que acham que estou exagerando, cumpro o dever de lembrá-los das empresas e marcas que pareciam sólidas, mas se desmancharam e viraram pó na última década.
Quem não se recorda de ter ido até uma loja da gigante Blockbuster alugar um filme? Essa era já acabou e levou a maior franquia desse segmento junto com ela. Faliu em 2013.
E o Yahoo? O maior portal de internet do mundo chegou a valer mais de 100 bilhões de dólares, mas foi comprado pela Verizon por uma minúscula fatia de 5% desse valor. O Yahoo podia até ter comprado o Google, quando este era uma “mera” startup.
Também houve a espetacular queda da Xerox. A empresa não faliu, porém perdeu sua relevância, mesmo tendo criações sensacionais com seu time de inovação. Contudo, inovação não se trata apenas de ter boas ideias, mas da capacidade de execução dessas ideias, que acabaram sendo aproveitadas por várias outras concorrentes.
Lembra da Atari? A empresa se tornou um ícone ao criar um mercado gigante de videogames praticamente sozinha. Pois é… Faliu, ressuscitou, faliu novamente e foi vendida apenas para manter a marca viva.
Outro exemplo é a Blackberry. A fabricante de smartphones e tablets chegou a ter mais de 50% do mercado de dispositivos móveis nos Estados Unidos. Entretanto, perdeu quase todo seu market share, faliu e se arrasta com um aparelho que funciona no sistema Android.
A lista é longa e inclui Sun Microsystems, Compaq e America Online – que foi meu primeiro servidor de internet, em 1996, quando eu ostentava o Souza96@aol.com. Esses casos mostram que ciclos de ascensão e queda no mundo corporativo acontecem da mesma forma que em grandes impérios como o egípcio, persa, romano e bizantino, que mudaram o mundo e, posteriormente, foram substituídos por outros mais fortes ou inovadores.
No entanto, o desaparecimento de empresas na última década não está relacionado apenas ao setor de tecnologia, como os exemplos já citados. A lista das empresas tradicionais que desapareceram no período também é enorme. No Brasil, tivemos tristes episódios com a Agrenco (apesar do agronegócio estar bombando), o Grupo X do Eike Batista, a rede de livraria LaSelva (além da Saraiva e Cultura agonizando), Mabel, Intelig e Avianca, bem como quase todas as grandes empreiteiras.
Certamente, você deve lembrar de várias marcas que, hoje, jazem no cemitério corporativo. Além disso, sabemos que a maioria das empresas familiares não sobrevivem ao desaparecimento do seu fundador.
Nesses últimos meses, temos presenciado soluções disruptivas que têm destruído negócios tradicionais da noite para o dia. Outros tantos parecem condenados a desaparecer, mas já não serão objeto de maiores surpresas. As causas podem ser internas ou externas. Em alguns casos, por meio da chamada “tempestade perfeita”, quando uma combinação de circunstâncias intrínsecas e extrínsecas selam o triste destino de negócios que pareciam tão promissores.
Dentre as causas internas, tenho percebido de forma recorrente:
– Estratégias mirabolantes, descoladas da realidade do mercado;
– Execução precária, com dirigentes se contentando em ler slides em PowerPoints com estratégias, mas sem o cuidado de desdobrá-las até a linha de frente. Sempre digo que a execução é parte integrante da estratégia e não algo a ser “pensado” após sua definição;
– Desconexão da empresa com seus clientes, como se vivessem em planetas diferentes. Isso acontece pela incapacidade de perceber o que o cliente de fato valoriza, além de um péssimo atendimento no dia a dia.
– Conflitos entre sócios, membros da família, ou entre empreendimentos que recebem investimentos e fundos que aportaram capital, com expectativas que não se realizam;
– Privilégio ao faturamento e fatia de mercado, em vez da rentabilidade e do caixa;
– Endividamento inadequado para financiar a euforia da expansão, gerando uma despesa para aquisição de capital que não encontra geração líquida de caixa compatível para servir aos custos financeiros da dívida contraída;
– Falta de cultura de inovação, com a insistência de fazer mais do mesmo;
– Atitudes perniciosas como comodismo, complacência, individualismo e paternalismo, bem como malabarismo com informações. Esses são componentes de uma cultura que se torna um passivo invisível no Balanço da Empresa;
Todavia, a causa-raiz da queda, perda de relevância ou do previsível desaparecimento da maioria das empresas reside, sem sombra de dúvida, no estilo de liderança exercido pela maioria dos seus dirigentes. Líderes pouco inspiradores e, ainda, incrementais estão acostumados ao sucesso de uma realidade que já não existe mais. Eles são focados no curtíssimo prazo e na própria sobrevivência profissional, sendo que, muitas vezes, preferem não enfrentar os desafios necessários para posicionar a empresa rumo ao sucesso do longo prazo.
Já as causas externas também são inúmeras e incluem novas tecnologias disruptivas, que tornam o modelo de negócio obsoleto; mudanças nos hábitos e preferências dos consumidores; alterações na legislação e em marcos regulatórios; além do surgimento de concorrentes mais ágeis e focados nos clientes, entre várias outras.
Permita-me sugerir a utilização do checklist acima ao se fazer a pergunta inconveniente: minha empresa existirá em 2030?
Não perca tempo. Coragem para decidir e velocidade exponencial na hora de agir são fundamentais para garantir que a sua empresa esteja bem, na estrada rumo ao futuro.
É preciso se transformar para ser um agente da transformação que a sua empresa necessita!
*César Souza, fundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor e palestrante em estratégia empresarial, desenvolvimento de líderes e estruturação de Innovation Hubs. Autor de “Seja o Líder que o Momento Exige”