No último dia 4 de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) viajou a São Paulo para selar sua aliança com o empresário Paulo Skaf (MDB), presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). A agenda previa um encontro da dupla com o apresentador José Luiz Datena, nome preferido dos bolsonaristas para a Prefeitura de São Paulo, mas ele não apareceu e quem acabou se encontrando com o presidente foi o outro pré-candidato: o ex-vereador Andrea Matarazzo (PSD).

A imagem dos três conversando foi registrada pela câmera de celular e enviada a Matarazzo, que imediatamente publicou a foto em suas redes sociais. A cena foi classificada como “emblemática” no entorno do presidente da Fiesp, que vai assumir o diretório paulista do Aliança pelo Brasil tão logo a legenda bolsonarista seja registrada na Justiça Eleitoral.

Enquanto Datena dá sinais de que não vai disputar a Prefeitura e surpreendeu ao dizer que não se considera um porta bandeira do Planalto, Matarazzo afinou o discurso com Bolsonaro e sinaliza que pode ser o único defensor do presidente nos debates eleitorais da capital.

Embora Bolsonaro diga que não pretende se envolver nas eleições municipais caso seu partido não saia do papel a tempo de entrar na campanha, seus seguidores avaliam que é preciso buscar um nome para defender o bolsonarismo e evitar que um aliado do governador João Doria (PSDB), potencial adversário nas eleições de 2022, vença a disputa no maior colégio eleitoral do Brasil.

Filiado ao PSDB por 25 anos – entre 1991 e 2016, ano que entrou no PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab. Matarazzo foi um quadro da chamada velha guarda tucana. Amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem foi Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, ele hoje apresenta um discurso que destoa dos antigos companheiros.

“Não sinto nenhuma das minhas liberdades cerceadas em nada. Não tenho porque sair criticando o Bolsonaro”, disse Matarazzo ao jornal O Estado de S. Paulo, na sede do PSD em São Paulo, localizado no Edifício Joelma, no centro. Embora diga que não se considera um “bolsonarista”, mas um “brasileiro que tem torcido muito para o Brasil”, o ex-vereador não poupa elogios ao governo federal. “Em termos de desenvolvimento econômico, eu, como industrial, tenho sentido os reflexos (da atuação do governo). A atividade econômica está voltando. Os juros para a indústria nunca estiveram tão baixos em termos nominais, fora a Selic. As reformas estão caminhando.”

Quando questionado se sua estratégia é dar uma guinada à direita, Matarazzo desconversa. “Acho até interessante ver alguns personagens que a gente via de direita virarem progressistas e outros progressistas que agora fazem o discurso da violência. Sempre fui no PSDB muito discriminado por partes do partido que hoje estão na minha extrema-direita no discurso”, afirmou.

Conversas

Enquanto o PT busca um nome para disputar a Prefeitura e os bolsonaristas lutam contra o relógio para criar o novo partido, Matarazzo já está montando o time de campanha enquanto conversa com potenciais parceiros de chapa. O marqueteiro Paulo Vasconcelos, que fez a campanha presidencial de Aécio Neves em 2014, vai coordenar sua comunicação ao lado do jornalista Otávio Cabral, que também trabalhou na campanha tucana daquele ano. O ex-ministro Kassab, presidente nacional do PSD, garantiu a ele que a campanha na capital receberá uma fatia generosa de recursos do Fundo Eleitoral.

Matarazzo tem dialogado com todos os nomes que se apresentam pela direita na disputa em São Paulo. Por intermédio da deputada estadual Janaína Pascoal (PSL), se reuniu com o deputado estadual Arthur do Val, um dos líderes do MBL e pré-candidato do Patriotas. Como nenhum dos dois aceitou ser vice, a articulação não avançou. “Ele tem muita experiência. É um excelente quadro para a gestão. Se os bolsonaristas votarão nele, só os bolsonaristas podem dizer”, disse Janaína. Matarazzo também conversou Datena, Joice Hasselman e recebeu o deputado bolsonarista Gil Diniz (PSL) em seu programa na Rádio Capital. “Matarazzo é um dos nomes mais preparados, mas ele veio da social-democracia. Ele pode conseguir atrair uma parcela dos bolsonaristas, mas não todos”, disse Diniz.

A falar sobre uma eventual polarização entre esquerda e direita na eleição da capital, o ex-vereador deixa clara sua estratégia: atacar o prefeito, Bruno Covas (PSDB), que vai disputar a reeleição, e tentar colar nele o selo de esquerdista.

“Não dá para discutir esquerda e direita na eleição de São Paulo. Quem está fazendo isso agora é essa gestão que loteou a Prefeitura para dar o tom da esquerda, enquanto a cidade está inteira esburacada. Buraco não é de esquerda ou direita”, disse. Nesse ponto, Matarazzo é questionado sobre como seria criticar tão frontalmente um adversário que trava uma luta pública contra o câncer e faz uma revelação.

“Eu tive câncer há um ano e meio atrás. Fiz 30 aplicações de radioterapia e quimioterapia. O comandante quando senta no avião, ele sabe que vai entregar os passageiros do outro lado. Não vem com essa. Sou solidário. Sei o que significa isso, mas você não vai obrigado para uma campanha”.

Inimigo comum

O deputado federal bolsonarista Luiz Philippe de Orleans e Bragança destaca que seu grupo ainda não tem um nome para disputar a prefeitura. “A militância que está constituindo o Aliança pelo Brasil não tem candidato escolhido”, afirma. Orleans e Bragança no entanto avalia que é essencial derrotar o candidato do PT – quem quer que seja – e o candidato que receber o apoio do governador Doria, seja o prefeito Covas ou a deputada Joice.

Quando for oficializada, a candidatura de Matarazzo vai ser apoiada por ao menos um dos grupos de renovação política: o Livres. O perfil do empresário destoa do de recém-chegados à política, já que ele tem 63 anos, mais de 20 deles dedicados à vida pública. Para Matarazzo, a união ao Livres é uma via de duas mãos. “São liberais mas não são dogmáticos. Sabem que não adianta distribuir vale-creche em bairros onde a iniciativa privada não vai construir creches.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.