27/02/2020 - 10:29
Para conter a disseminação do novo coronavírus, as autoridades de saúde fazem investigações meticulosas que podem envolver dezenas de pessoas: trata-se de encontrar aqueles que estiveram em contato com os infectados e garantir que eles não infectem outros.
Na França, por exemplo, após o anúncio de novos casos na quarta-feira, o Ministério da Saúde disse que ter aberto “uma investigação epidemiológica profunda para identificar e entrar em contato com todas as pessoas que estiveram em contato direto” com os 18 pacientes infectados até agora, incluindo dois que morreram.
“O objetivo é conter a epidemia, rompendo as cadeias de transmissão”, explica à AFP Bruno Coignard, da agência de saúde pública francesa responsável por gerenciar essas investigações.
Trata-se de “protocolos padronizados”, que são alvo de constante debate entre os países, sob mediação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Essa metodologia já funcionou com outras epidemias – como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), em 2002-2003; a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), em 2012-2013; e o ebola, em 2014 – e é conhecida como “contact tracing” (rastreamento de contatos).
Tudo começa com um interrogatório do paciente para identificar as pessoas com quem esteve em contato quando era contagioso. Uma vez identificadas, os epidemiologistas as contatam e as classificam de acordo com três níveis de risco: nulo/insignificante, baixo e moderado/alto.
O mais alto corresponde a “contatos diretos, face a face, a menos de um metro e por um período suficientemente longo de 10/15 minutos”, segundo Coignard. É o caso de um casal, por exemplo.
Já o nível mais baixo corresponde a pessoal médico bem protegido, ou a pessoas que “tiveram contatos muito ocasionais e furtivos” com o paciente.
“Caso tenham se cruzado na rua, não há razão para pensar que houve transmissão”, acrescenta o especialista.
O nível intermediário depende dos critérios do epidemiologista.
– Confinamento –
Dependendo de seu nível de risco, as pessoas envolvidas recebem instruções.
Na categoria mais alta, são convidadas a ficarem em casa, verificar a temperatura corporal duas vezes por dia e notificar as autoridades de saúde, se tiverem sintomas.
Para garantir um monitoramento ativo, as autoridades entram em contato com essas pessoas todos os dias.
Na França, existe um dispositivo de indenização para compensar o confinamento em casa.
Aqueles considerados em um nível intermediário também devem medir a temperatura duas vezes ao dia e informar as autoridades, em caso de sintomas, mas podem sair de casa.
Para essas duas categorias, o acompanhamento é de 14 dias, a duração máxima do período de incubação.
Pessoas com risco nulo, ou insignificante, não devem fazer nada em particular.
Entre familiares, amigos, vizinhos de avião, equipe médica e outros, essas investigações podem envolver “várias dezenas” de pessoas e mobilizar muitos profissionais, de acordo com Coignard.
Tudo depende da rapidez da detecção de um caso positivo e do número de pessoas que estiveram em contato com o paciente.
Pode haver “situações muito diferentes, com pacientes que contaminam muito poucas pessoas e outros que contaminam muitas”, segundo Daniel Lévy-Bruhl, da agência de saúde pública da França.
“É muito variável. Depende da quantidade de vírus que excretam, da vida social entre o momento em que começaram a apresentar sintomas e o momento em que foram isolados”, diz.
Bem ancorado nos países desenvolvidos, este dispositivo é cada vez mais difícil de ser aplicado, porém, à medida que os casos aumentam.
Se a doença atingir um grande número de pessoas, “não teremos recursos suficientes para acompanhar todos os pacientes, ou isolar todos os contatos”, de acordo com o Dr. Simon Cauchemez, do Instituto Pasteur da França.