11/03/2020 - 7:24
Em apenas dois meses, desde o surgimento de um novo coronavírus na China até a segunda-feira que provocou a maior queda das Bolsas desde a crise financeira de 2008, a epidemia de COVID-19 deixou a economia mundial de joelhos.
Tudo começou na cidade chinesa de Wuhan, uma metrópole industrial de 11 milhões de habitantes, onde no fim de dezembro de 2019 foram detectados vários casos de uma pneumonia viral de origem desconhecida.
A doença se propagou rapidamente e em 9 de janeiro as autoridades chinesas atribuíram os casos a um novo tipo de coronavírus.
Dois dias mais tarde, a China registrou a primeira morte provocada pelo novo coronavírus, que se propagou primeiro aos países asiáticos e pouco depois a todo o mundo, superando 115.000 casos de infecção até o momento.
No fim de janeiro, o regime comunista determinou uma quarentena para a cidade de Wuhan e proibiu a reabertura de centenas de fábricas da região após o recesso do Ano Novo chinês.
Os setores do turismo e dos transportes foram os primeiros a expressar preocupação com a epidemia, já que muitos países adotaram restrições à entrada de cidadãos da China.
Ainda em janeiro os mercados registraram os primeiros choques, de Xangai a Wall Street, e os preços das matérias-primas, que têm na China um mercado enorme, desabaram.
Entre meados de janeiro e o início de fevereiro, os preços do petróleo caíram quase 20%.
Mas isto era apenas o começo.
– Cadeias de produção abaladas –
O novo coronavírus deixou evidente a dependência da indústria mundial em relação à indústria chinesa.
O mundo descobriu que Wuhan, uma cidade quase desconhecida até então, é um “hub” logístico e centro de produção automotivo para vários grupos internacionais e que um problema em uma de suas fábricas pode ter consequências para várias empresas no mundo.
Na Alemanha, Coreia do Sul, Japão, Itália, França ou Estados Unidos, os empresários perceberam a dificuldade que enfrentariam para obter peças e componentes produzidos geralmente por sócios chineses.
A montadora francesa Renault, por exemplo, teve que suspender as atividades em uma de suas fábricas na Coreia do Sul, enquanto a gigante americana Apple enfrentou um corte na produção de seus fornecedores.
Os economistas destacaram um grande “choque de oferta” devido ao papel chave da China no comércio mundial e os líderes mundiais começaram a expressar preocupação com as consequências para o comércio e o crescimento, em um contexto complicado devido às tensões comerciais entre China, Estados Unidos e Europa.
“A COVID-19, uma emergência de saúde mundial, interrompeu a atividade econômica na China e pode colocar em perigo a recuperação mundial”, advertiu em 23 de fevereiro a diretora gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.
– Perigo de recessão –
Diante da propagação da epidemia, as multinacionais alertam que a crise sanitária prejudicará seus resultados e as Bolsas começam a registrar quedas.
Na última semana de fevereiro, as Bolsas dos Estados Unidos e da Europa perderam 12%, o que não acontecia desde 2008-2009, quando a economia mundial entrou em recessão com a crise financeira.
A palavra recessão começa a aparecer nos comentários de analistas e governantes. E as autoridades começam a atuar para tentar evitar o cenário.
No dia 3 de março, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) reduz de maneira surpreendente as taxas de juros. A China injeta bilhões de dólares no mercado para sustentar sua atividade, enquanto Alemanha, França e Itália anunciam planos de apoio a suas empresas.
No dia 11 de março, o Banco de Inglaterra reduz as taxas de juros de 0,75% a 0,25%.
Os países tentam evitar que à crise de oferta se adicione um choque mundial de demanda, uma forte queda do consumo e dos investimentos, caso outras nações, como a Itália, sejam obrigadas a aplicar drásticas medidas de confinamento.
A princípio, no entanto, como em Los Angeles ou Sydney, as pessoas invadem supermercados com o objetivo de armazenar produtos de primeira necessidade.
Os aviões, porém, viajam quase vazios ou permanecem parados à medida que as companhias cancelam milhares de viagens. A epidemia poderia custar às companhias aéreas até 100 bilhões de dólares, informou em 5 de março a Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA).
– Cotação do petróleo desaba –
Para piorar o cenário, o preço do petróleo despencou em 9 de março, arrastando a Bolsas, que registraram quedas espetaculares.
Três dias dias antes, Arábia Saudita e Rússia não alcançaram um acordo sobre uma redução da produção para estabilizar o prelo do petróleo.
Irritada com a falta de consenso, a Arábia Saudita inicia uma guerra de preços, que deixou a cotação do barril próxima a 30 dólares, após a baixa mais expressiva em apenas um dia desde a Guerra do Golfo em 1991.
A queda do petróleo provocou pânico nas Bolsas, que na segunda-feira fecharam em queda de até 8% e perderam, em poucas horas, trilhões de dólares de capitalização.
Analistas temem que a queda do petróleo e dos mercados desestabilize os bandos e os grandes fundos de investimento.
Os governos e bancos centrais devem “impedir que uma crise temporária prejudique de forma irremediável as pessoas e empresas com perdas de emprego e falências”, declarou Gita Gopinath, economista chefe do FMI.
Em 2008-2009, o G20 (Grupo dos 20 países industrializados e emergentes, que representa 66% da população mundial e 85% do PIB) assumiu o comando da reposta à crise, a ponto de ser chamado de “governo econômico mundial”.
Onze anos depois, a situação é consideravelmente diferente com a guerra comercial, o Brexit e a instabilidade política na Europa.
Nada indica que o G20, presidido este ano pela Arábia Saudita, conseguirá desempenhar o mesmo papel que teve na crise de 2008.