16/03/2020 - 14:21
Completando um ano à frente da área de renda variável da BTG Asset Management, e em meio à turbulência global causada pelo coronavírus, Will Landers afirma que o impacto da pandemia ainda é uma incógnita. “Ainda está tudo nebuloso e a volatilidade é muito grande”, diz ele. Apesar disso, avalia que a Bolsa brasileira está relativamente barata, além de enxergar com bons olhos o setor de consumo. A seguir, os principais trechos da entrevista.
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O caos do coronavírus se justifica ou é “fantasia”?
Acho que não dá para chamar de fantasia. Sem dúvida tem uma questão financeira para o mercado, de qual vai ser o impacto econômico mundial dessa crise. Aqui nos Estados Unidos já vemos o fechamento de escolas e pessoas tendo de trabalhar de casa. Muitos dos bancos brasileiros e americanos estão tendo restrições de viagens. Isso tudo tem um impacto primário e secundário nas economias. É difícil quantificar para cada setor e companhia porque não sabemos qual vai ser a duração desse pânico.
Diria que o momento é mais tenso que 2008?
É bem diferente. O coronavírus afeta as pessoas fisicamente. Não sabemos se vai ter uma vacina até o próximo inverno. Em 2008, o quantitative easing (política de flexibilização monetária do Fed) foi uma bomba atômica na crise. Agora, esse mecanismo vai ajudar o mercado, mas não cura o vírus. A grande incerteza é quanto tempo isso vai durar. E ainda há a Arábia Saudita afetando o preço do petróleo.
O que o gestor pode fazer?
Nossa capacidade de ter um hedge é limitada. É olhar o mercado e buscar oportunidades. E esperar que o cotista tenha paciência também. Ainda está tudo nebuloso e a volatilidade é muito grande. Estamos fazendo ajustes pequenos no portfólio, comprando companhias que gostamos e tendo um pouquinho mais de caixa do que o normal.
Em que setores enxerga oportunidades?
Continuamos com posições menores em outros países (da América Latina) do que no Brasil, com preferência por companhias de consumo, e-commerce. Reduzimos a exposição a petróleo e commodities pela crise na Arábia Saudita e pelo que está acontecendo na China. Mas o Brasil continua bem e agora o valor no setor de consumo discricionário (consumo sensível aos ciclos econômicos) baixou a níveis mais interessantes.
A Bolsa está barata?
Relativamente. A Bolsa agora negocia a múltiplos bem abaixo da média histórica da última década. Apesar do barulho político recente, o Brasil está com risco país bem abaixo da média desse mesmo período, com a aprovação de várias reformas nos últimos quatro anos. Isso me leva a crer que a Bolsa merece voltar a negociar a um prêmio versus sua história quando essa crise de covid-19 passar e o mercado de petróleo se recuperar um pouco dessa guerra comercial.
E a debandada dos investidores estrangeiros da B3?
Vi dinheiro saindo da Bolsa, mas também entrando através das operações de IPO (oferta pública inicial de ações) e secundárias (em 2019). O que não houve realmente foi um monte de investidor vindo para o mercado brasileiro depois da reforma da Previdência, ao contrário do que se esperava.
Por quê?
Porque os investidores não viram até agora o crescimento econômico como resultado das reformas. Está demorando porque está havendo a transferência de liderança no crescimento do governo para o setor privado. Esse período de transição faz com que o PIB não cresça tanto. Mas está na direção certa, com uma situação fiscal e monetária melhor, uma taxa de juros mais compatível com a do resto do mundo. É um processo de normalizar uma economia e muitos ainda não se acostumaram a essa nova realidade.
A volatilidade deve fechar a janela para novos IPOs?
Acho que, neste momento de mercado, é muito difícil uma companhia começar esse processo de fazer road show (com investidores) e, de outro lado, é difícil saber quando a precificação vai ser boa. Tem de deixar o mercado se acalmar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.