22/03/2020 - 14:44
A insistência do presidente Donald Trump em falar de um “vírus chinês” tem um precedente histórico sombrio para alguns asiático-americanos, que afirmam que a escolha dessas palavras alimenta um racismo latente.
Falando diariamente sobre a pandemia, Trump tem chamado incessantemente o coronavírus responsável pela doença Covid-19 de “vírus chinês”. Durante uma coletiva de imprensa, um fotógrafo capturou inclusive suas anotações aonde ele riscou os termos clínicos escolhidos pelos profissionais da saúde.
Embora os incidentes nos Estados Unidos pareçam ser menores do que na Europa, a polícia de Nova York disse que um homem perseguiu e golpeou uma mulher asiática que usava uma máscara protetora no metrô, chamando-a de “doente”.
Na quinta-feira, grupos de direitos civis lançaram um site para que os americanos de origem asiática denunciem crimes tendenciosos relacionados à pandemia, para ver como o problema se espalhou.
Manjusha Kulkarni, diretora executiva do Asian Pacific Policy and Planning Council, afirma que a violência faz parte de uma história mais ampla nos Estados Unidos que remonta ao “perigo amarelo”, quando as suspeitas sobre asiáticos levaram os EUA a proibir toda a imigração chinesa em 1882.
“Definitivamente acho que vai piorar, em parte devido ao esforço incansável do presidente de transformar o ódio em uma arma contra as comunidades”, afirmou Kulkarni.
– Preso nas tensões entre EUA e China –
Trump chegou ao poder mediante promessas de manter longe os imigrantes latino-americanos e muçulmanos, mas apontou que sua intenção ao dizer “vírus chinês” tem uma razão geopolítica.
“Não é racista”, disse em coletiva de imprensa. “Vem da China. Quero ser preciso”.
As tensões entre Estados Unidos e China aumentaram e Trump expressou sua raiva por um funcionário de Pequim que promoveu uma teoria da conspiração, alegando que o exército americano levou o vírus a Wuhan, onde os casos foram relatados pela primeira vez.
Frank H. Wu, professor da Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia, reconheceu que as doenças receberam durante muito tempo nomes geográficos e disse que era justo criticar as ações de Pequim.
Mas enfatizou que “o importante aqui não é a intenção. São as consequências. E estas palavras importam, porque este é um momento de grande estresse”.
– Culpando os chineses pela peste –
No passado, os asiático-americanos já haviam sofrido discriminação relacionada a doenças, como quando as autoridades fecharam o Chinatown em São Francisco para contrariar a peste bubônica, em 1900.
A quarentena obrigatória do bairro chinês em São Francisco só teve fim depois que um tribunal acordou que as autoridades deveriam comprovar que os chineses americanos teriam mais chances de se infectar.
Embora nenhum funcionário dos Estados Unidos sugira que os americanos de origem chinesa estejam propagando o coronavírus, os asiático-americanos estão tendo que suportar o peso das tensões internacionais.
“Você pode ser um cristão de língua inglesa que nunca esteve na China e possui altos padrões de saúde. As pessoas ainda vão te associar de alguma forma com a sujeira e a doença”, lamenta Wu.