26/03/2020 - 10:45
Em poucas semanas, o coronavírus e o confinamento de bilhões de pessoas abalaram a economia mundial, a ponto de alguns economistas preverem a recessão mais violenta da história moderna, talvez pior que a Grande Depressão da década de 1930.
Esta também será acompanhada por uma disparada do desemprego. Seu escopo dependerá das medidas tomadas pelos governos, bancos centrais e instituições internacionais e da duração da crise da saúde.
– Recessão ou depressão? –
“As economias do G20 sofrerão um golpe sem precedentes na primeira parte do ano e se contrairão em 2020 antes de voltar a se recuperar em 2021”, preveem os economistas da agência de classificação Moody’s.
O secretário-geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Ángel Gurría, estimou na BBC que a economia mundial sofrerá “por anos”.
A crise atual provavelmente será mais grave que a de 2008, pois, dessa vez, afeta não apenas o sistema financeiro, mas toda a economia, com um colapso na produção e, portanto, na oferta e também na demanda, devido às bilhões de pessoas confinadas.
O transporte, o turismo e a distribuição são particularmente afetadas, embora alguns setores estejam melhorando: produtos farmacêuticos, indústria de equipamentos médicos e produtos sanitário, alimentos e comércio on-line.
Segundo a Moody’s, os países do G20 devem sofrer coletivamente uma contração de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Nos Estados Unidos, será de -2% e na zona do euro, de -2,2%. A expectativa é que a China cresça 3,3%, uma taxa muito fraca para esse país, acrescenta a agência.
Para os Estados Unidos, o Goldman Sachs prevê um ano de 2020 a -3,8% e o Deutsche Bank aposta na pior contração da economia americana desde “pelo menos a Segunda Guerra Mundial”.
Na Europa, o ministro da Economia alemão falou de uma recessão de “pelo menos” 5% em 2020 na Alemanha e na França, a Moody’s prevê -1,4%, enquanto Nuno Fernandes, professor da escola de negócios IESE, aposta em -2% em 2020, com base em um cenário em que a crise da saúde termina em junho.
Para o Reino Unido, a KPMG projeta uma queda ligeiramente mais severa de 2,6%, mas que pode dobrar se a pandemia durar até o final do verão.
– Desemprego –
Na zona do euro, com regulamentações trabalhistas mais protetoras, o gabinete Capital Economics espera que o desemprego suba para 12% no final de junho, “revertendo assim sete anos de progressos”, embora na segunda metade do ano haja uma recuperação.
No Reino Unido e nos Estados Unidos, essas taxas estão atualmente em níveis historicamente baixos, graças ao aumento da “uberização”, ou empregos precários.
Nos Estados Unidos, onde os funcionários podem ser demitidos facilmente, os economistas preveem um aumento dramático no número de desempregados. Algo confirmado nesta quinta-feira: Quase 3,3 milhões de pessoas solicitaram seguro-desemprego durante a semana que terminou em 21 de março, um aumento de mais de três milhões na comparação com a semana anterior, quando 282.000 novos pedidos foram apresentados.
O maior número anterior de pedidos semanais do subsídio por desemprego era de 695.000 em outubro de 1982.
James Bullard, presidente do Federal Reserve, disse em entrevista à Bloomberg que o desemprego pode subir para 30% nos próximos meses.
– Inflação –
A epidemia de coronavírus está causando muita incerteza sobre a evolução dos preços, entre os riscos de depressão econômica e deflação se a demanda entrar em colapso por um longo tempo, mas com algumas pressões inflacionárias se as moedas se desvalorizarem, se houver escassez, etc.
As taxas de inflação estão, de qualquer forma, reduzidas neste momento e, em geral, mais baixas do que as metas dos bancos centrais, principalmente no Reino Unido.
– Dívida –
No Reino Unido, Carl Emmerson, do Instituto de Estudos Fiscais (IFS), explica à AFP que a dívida de quase 90% do PIB é alta, mas atingiu “quase 260% após a Segunda Guerra Mundial”.
O déficit das contas públicas ficou recentemente abaixo de 2%, com os conservadores transformando seu controle em uma regra fiscal. Ele subiu para 10% durante a crise financeira de 2008.
Dívidas e déficits devem, de qualquer forma, ser as menores das preocupações dos governos, especialmente porque as taxas de financiamento são historicamente baixas, diz Jonathan Portes, professor de economia do King’s College London.
Além disso, parecem ter deixado de lado, por enquanto, todas as doutrinas da ortodoxia orçamentária ao anunciar planos de estímulo de trilhões de dólares.