15/04/2020 - 13:03
“É como um tsunami, arrasta você, física e emocionalmente”. Infectados com a COVID-19, estes pacientes estiveram perto da morte e, agora, começam longas semanas de reabilitação, ainda marcadas pela passagem pela terapia intensiva e pela solidão trazida com a doença.
“Muito bem, muito bem!”. Nesta terça-feira (15) de manhã, uma fisioterapeuta do Instituto Universitário de Reabilitação Clemenceau, em Illkirch-Graffenstaden (leste da França), anima Georges, de 77 anos. Apoiando-se em barras paralelas, ele se balança para frente e para trás sobre uma prancha colocada em cima de dois cilindros.
Os olhos parecem sorrir por trás dos óculos e, ao mesmo tempo, Georges rapidamente fica sem fôlego sob sua máscara cirúrgica.
“Percorri um longo caminho”, diz ele, que descreve “visões apocalípticas” durante seu coma artificial. Agora, quer olhar de novo para o futuro.
Ao sair do hospital, “pensei que podia ir embora para casa, mas admito que não poderia ter andando nem dez metros”, contou, descrevendo “um cansaço que nunca tinha sentido antes”.
No mesmo cômodo, outro paciente, de cadeiras de rodas, pedala em uma bicicleta de reabilitação.
No Instituto Clemenceau, que abriu duas unidades de 18 e 20 leitos dedicados à COVID-19, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala e psicólogos trabalham duro para que os pacientes voltem a ficar de pé.
Desgaste muscular, desnutrição, pacientes que perderam entre 10% e 15% de seu peso, problemas de deglutição relacionados com a entubação, dificuldades respiratórias… No caso dos pacientes que passaram por terapia intensiva e são enviados para este centro, o trabalho de reabilitação deve durar de seis semanas a seis meses.
“Tiveram a COVID, danos musculares e neurológicos e ainda têm todos os efeitos ligados ao sedentarismo”, explica a médica Marie-Eve Isner. “Em uma semana de imobilização, você perde 10% da sua massa muscular”, completa.
Quando chegam a este centro, alguns sequer conseguem se sentar, e todos têm de aprender os gestos da vida diária.
“Passamos pelo treinamento de sentar, ficar em pé, parar, andar e fazer esforço”, diz o chefe da equipe de apoio técnico, Julien Przybyla.
As sessões são muito fragmentadas para limitar a fadiga.
Para Marie Velten, coordenadora de cuidados, a reabilitação também implica “repensar um plano de vida”.
Além das dificuldades físicas – aponta a enfermeira Vanessa Beague -, os pacientes “têm muitos pesadelos, têm uma sensibilidade ao que aconteceu quando estiveram na unidade de terapia intensiva”.
Segundo a doutora Isner, “podemos ver sequelas neurológicas e cognitivas”.