O empresário Richard Tsung, dono da concessionária Tline, de São Paulo, procura espairecer da rotina diária num clube de golfe, que frequenta nos finais de semana. No último dia 4, entretanto, seus parceiros no gramado estavam monotemáticos: o único assunto para suas conversas era o medo da atual onda de violência na cidade de São Paulo. “O tema girou em torno de cursos de defesa e a eventual compra de carros blindados”, diz Tsung. Revendedor de carros Toyota, Tsung viu aumentar os pedidos pelo serviço de blindagem de veículos. “De uma hora para outra explodiram as encomendas”, afirma. 

 

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Jacobson Neto, da GP: ”Nossos clientes estão pedindo reforços, preocupados

com a violência na cidade”

 

Como ele, José Jacobson Neto, vice-presidente do Grupo GP Serviços de Segurança, tem recebido ligações de clientes, preocupados com a guerra instalada entre a polícia e o crime organizado na periferia de São Paulo. “Nossos clientes estão pedindo reforços”, diz Jacobson Neto, que conta com 18,5 mil funcionários no País. A miséria da segurança pública tem criado um terreno fértil para a cadeia de negócios ligados à proteção patrimonial e à vida, que vão de equipamentos eletrônicos até guarda-costas. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Vigilância (Abrevis), o País movimentou R$ 11 bilhões em 2011, com serviços de proteção. 

 

Outros R$ 6 bilhões são movimentados por empresas de blindagem, de equipamentos eletrônicos e materiais de defesa (veja quadro ao final da reportagem). Porém, ao contrário do que o senso comum pode indicar, um longo período de insegurança não é necessariamente favorável às empresas do setor. “Quanto mais violenta é a cidade, menos negócios ela atrai”, diz Frederico Camara, vice-presidente da Abrevis. “Cada companhia que deixa de vir para o Brasil é mais um cliente potencial que a gente perde.” O controle da violência, por outro lado, reverte esse quadro, explica o economista José Alexandre Scheinkman. “Basta ver que o Rio de Janeiro, após melhorar a segurança pública, está atraindo novos investimentos”, diz. 

 

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Tsung, da Tline: “De uma hora para outra as encomendas

de carros blindados explodiram”

 

Para oferecer serviços de proteção no Rio, a Embrase, uma das maiores empresas de vigilância do País, planeja desembarcar no Estado em 2013. Com 14 mil funcionários e uma carteira de 724 clientes, o presidente do grupo, Wagner Martins, prevê uma expansão de 32% no faturamento, neste ano. Uma ocorrência registrada em São Paulo acabou colaborando com esse resultado. Uma onda de arrastões em restaurantes da Capital, no primeiro semestre, fez desabar o movimento noturno, como na badalada rua Amauri. A Embrase foi contratada para garantir a segurança dos clientes da região, que, aos poucos, perderam o receio de frequentar o local. “Ninguém queria mais jantar após as 9 da noite”, diz Martins, que cobra R$ 400 mil por mês pelo serviço.

 

Outro contrato, que lhe rende R$ 1 milhão por ano, com o shopping Cidade Jardim, surgiu depois de dois assaltos, registrados no local, em 2010. A construtora JHSF, dona do empreendimento, investiu R$ 1,8 milhão em equipamentos eletrônicos para monitorar os corredores do shopping. O setor de tecnologia para segurança cresceu, em média, 11,2% nos últimos cinco anos. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese), os sistemas mais utilizados são os de circuitos de TV, de alarmes e de controle de acesso. É essa a estrutura adotada no edifício comercial mais caro de São Paulo, o Pátio Victor Malzoni, inaugurado na avenida Faria Lima. 

 

O contrato com a Haganá, umas das maiores do setor, vai custar R$ 3 milhões por ano para o condomínio. O custo de serviços de segurança ao patrimônio varia de R$ 10 mil a R$ 300 mil reais por mês, de acordo com o porte da empresa. “Depende também do que será protegido”, diz Chen Gilad, diretor da Haganá, que tem contrato com empresas, como Locaweb, Novartis e Oracle. Os recentes ataques do PCC não aumentaram a demanda na Haganá. Porém, assaltos como o realizado no complexo industrial da Eurofarma, em Itapevi, na Grande São Paulo, na madrugada do dia 22 de outubro, levam as empresas a reforçarem sua segurança. Na ocasião, uma quadrilha de 20 bandidos invadiu a Eurofarma e carregou quatro caminhões com remédios.

 

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