Na cartilha do americano Warren Buffett o momento de comprar ações é escolhido de forma cuidadosa. Enquanto os ativos estão valorizados, ele não despeja recursos de sua empresa de investimentos, a Berkshire Hathaway. Quando encontra empresas subvalorizadas e com capacidade de trazer resultados de longo prazo, Buffett ataca. Foi assim que ele aprendeu nos anos 1940, com o seu professor Benjamin Graham, considerado o pai da estratégia “buy and hold”, de manter no portfólio ações de empresas sólidas. E foi assim em 2008, no início da crise financeira global, quando Buffett comprar ações preferenciais de companhias ameaçadas de entrar em colapso.

Era de se esperar que ele fizesse o agora, com a crise do novo coronavírus derretendo bolsas em todo o mundo. O caixa de sua empresa, no entanto, só aumentou. O que Buffett viu de diferente desta vez? Em videoconferência com acionistas da Berkshire, no sábado 2, ele fiz que não encontrou papéis com preços verdadeiramente atraentes. Por isso sua holding fechou o primeiro trimestre com US$ 137 bilhões em caixa.

Para Buffett, a crise atual difere de todas as outras. Ela não ocorreu por algum desvio nos fundamentos econômicos e sim por questões de ordem sanitária. Afetou a todos os setores globalmente e trouxe junto a imprevisibilidade — algo que não atrai um conservador voltado a fundamentos como Buffett.

“Ele tem um caixa alto, mas ninguém sabe qual a verdadeira situação da economia, se vai haver uma segunda onda de contaminação, lockdown ou se as medidas dos bancos centrais serão suficientes. O momento pede cautela”, diz o economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira. Para o estrategista da Genial Investimentos, Filipe Villegas a filosofia do megainvestidor é comprar para ser sócio. “Ele está aplicando a velha cartilha, coisas básicas que todo investidor deve fazer e que ficou esquecida em 2019 porque o ano foi muito bom para o mercado de ações”, afirma.

Previsibilidade e fundamento são duas coisas que Buffett não encontra nas companhias aéreas. Daí o motivo de se desfazer de US$ 6,5 bilhões em papeis do setor ao longo do mês de abril, preferindo assumir um prejuízo do que manter os papéis. Segundo ele, as perspectivas para o setor mudaram de forma drástica com a queda súbita na demanda. “Buffett está cauteloso porque houve mudança de premissa e podem ocorrer alterações importantes no turismo de negócios”, diz Alexandre Sabanai, sócio da Perfin Asset Management, para quem o que mais chama a atenção é a falta de respostas do investidor que é chamado de Oráculo de Omaha. “Ele deixou claro que não tinha respostas para tudo. Foi muito transparente. Ter consciência de que não sabe é importante para evitar decisões erradas”.