21/05/2020 - 7:36
Na ausência de acordo político para implementar um aplicativo anticoronavírus, as pessoas que testaram positivo para o novo vírus são contatadas por telefone para rastrear seus contatos, dando origem a uma nova profissão: “rastreador de COVID-19”.
Todas as manhãs, cerca de sessenta pessoas com seus laptops e headsets, dividem as ligações na plataforma N-Allo, um dos “call centers” associados à operação iniciada pelo governo belga.
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Neste reino de 11,5 milhões de habitantes, onde o vírus deixou mais de 9.000 mortos, esse “rastreamento” é levado muito a sério, especialmente quando as autoridades autorizaram há quinze dias um desconfinamento muito progressivo por medo de uma nova onda epidêmica.
Entre os funcionários da N-Allo, Pierre Fournier explica que se apresentou quando soube que cada uma das regiões belgas estava contratando centenas de pessoas para essa operação sem precedentes que busca identificar possíveis portadores do vírus.
“Eu queria contribuir com meu pequeno grão de areia para a localização e erradicação da pandemia”, disse à AFP este consultor de 65 anos.
Sua tarefa, assim como os demais funcionários no call center experientes ou inexperientes, é estabelecer uma lista de pessoas com as quais os pacientes entraram em contato durante um período de dez dias, dois dias antes dos primeiros sintomas até sete dias depois.
Se o contato excedeu 15 minutos a menos de 1,50 metros, a pessoa que esteve em contato é considerada “de alto risco”, e outro “rastreador” fica responsável por avisá-la.
O objetivo é “reduzir os círculos de contaminação e fazer avançar o desconfinamento”, resume Gladys Villey, da Mutualité Partenamut, que em Bruxelas organiza esse tipo de segunda rede de prevenção.
Se, após 24 horas, a pessoa considerada de “alto risco” e que deve ficar isolada por 14 dias em casa não atender o telefone, assistentes sociais, paramédicos ou ambulâncias organizam uma visita domiciliar, explica.
– Aplicativo móvel, um “complemento” –
“Enviamos profissionais acostumados a entrar em contato com pacientes doentes e que dominam vários idiomas, o que facilita as coisas”, diz Villey. Na Bélgica, existem 185 nacionalidades representadas.
Das 340 visitas realizadas na região de Bruxelas desde o início da operação, em 11 de maio, apenas “de 20% a 30%” se recusaram a colaborar, “felizmente uma minoria”, ressalta a responsável.
“Muitas pessoas têm medo de nos fornecer informações. Tentamos tranquilizá-las, explicando que tais dados permanecem apenas em nossas mãos”, enfatiza.
Tranquilizar, criar um clima de confiança, mostrar empatia independentemente da idade do interlocutor… Os “rastreadores” da linha de frente, contratados por um período de três meses, receberam algumas dicas durante as sessões de treinamento.
Por sua vez, os médicos de família costumam avisar os doentes de que eles entrarão em contato. “Já criaram uma lista de contatos. Realmente não há efeito surpresa. A ligação geralmente leva de 10 a 15 minutos”, explica Fournier.
Atualmente, a operação está “em andamento”. Os pacientes fornecem em média “um ou dois nomes”, uma vez que viram poucas pessoas durante os dois meses de confinamento, explicam os organizadores.
Mas, “à medida que o desconfinamento progredir, o número de contatos fornecidos aumentará”, juntamente com o trabalho dos rastreadores, estima Xavier Brenez, diretor geral da Mutualités Libres, para quem um aplicativo móvel será um “complemento”.
“O sistema de call center e agentes de campo continua fragmentado, pois não permite identificar casos de contato em locais públicos ou em transportes públicos”, acrescenta.