Com sede em Porto Alegre, a Monte Bravo, maior empresa de agentes autônomos filiada à XP Investimentos, fechou 2019 com R$ 7 bilhões sob sua assessoria e definiu metas ousadas. No curto prazo, chegar a R$ 15 bilhões (em 2020). No médio prazo, a R$ 100 bilhões (até o fim de 2024). Isso significará crescer nominalmente 14 vezes em cinco anos. Número que impressiona, ainda mais se a fotografia for a dos momentos de pandemia: o índice Ibovespa, apesar da recuperação observada nos meses de abril e maio, ainda apresenta perda de 25% no acumulado do ano, o que naturalmente deixa os investidores mais cautelosos. Para a Monte Bravo, no entanto, é justamente esse ambiente que pode favorecer o seu plano de expansão, na visão de Pier Mattei, um dos fundadores do escritório. A estratégia tem como ponto principal a aquisição de outras assessorias de investimento, como ocorreu este mês com a compra da Ella’s.

Cerca de 30% do caixa da Monte Bravo está dedicado a compras. “Sempre crescemos de forma orgânica, por meio de prospecções. Mas entendemos que, para chegar ao patamar que pretendemos, era preciso ir ao mercado”, afirma Mattei. A Ella’s é uma novidade. Começou a operar em setembro do ano passado com a proposta de uma abordagem mais direcionada ao público feminino. Tem R$ 100 milhões sob gestão e cerca de 1 mil clientes. É pouco (não chega a 1,5%) se comparado ao montante dos recursos nas mãos da Monte Bravo no ano passado. Mas o escritório recém-adquirido oferece know how e posicionamento que até então não era devidamente explorado pela assessoria financeira.

 

As mulheres representam em torno de 30% do setor, mas esse percentual tende a subir porque o interesse desse público tem aumentado, identificam os gestores da empresa. Outra vantagem é que a Ella’s funciona de forma digital, enquanto a Monte Bravo atua principalmente nos moldes tradicionais. “Sempre dependemos de reuniões presenciais. Essa pegada mais digital também é um objetivo nosso”, diz Mattei. “Não vamos substituir nosso método principal de atuação, mas queremos complementar a estratégia e dar essa opção ao cliente.” Além da aquisição, o fundador conta que há outras três negociações em fase avançada. Para chegar aos R$ 15 bilhões desejados para este ano, ele calcula que pelo menos 20% virão do movimento de compra de concorrentes.

Ondas de fusões e aquisições são comuns no ambiente corporativo e de investimentos. Agora, com a crise do coronavírus, faz sentido que seja iniciado um novo ciclo de transações, defende o consultor e coordenador do curso de fusões e aquisições da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, Oscar Malvessi. “A escala faz a diferença e, como será preciso trabalhar de forma mais enxuta, a lógica de promover integrações é inexorável”, diz o especialista, que acredita que essa crise é diferente das anteriores por pegar todos de forma desprevenida. “Esse mercado de corretoras e gestoras pode ficar ainda mais exigente e concentrado, a exemplo do que já aconteceu com os setores bancário e supermercadista”, afirma o consultor.

ACELERAR Por estratégia, a Monte Bravo estava pronta para épocas desafiadoras, segundo Mattei. Nos últimos anos, ela buscou se manter com um caixa forte, justamente para ter fôlego em momentos difíceis. O executivo lembra que até fevereiro os ventos eram favoráveis para todos no mercado de renda variável. “Quando todo mundo estava começando a se arriscar, travou”, afirma. “Pensávamos nessa estratégia de aquisições para o ano que vem, mas a situação deu um empurrãozinho e nos beneficiou.”

A estratégia de crescimento não se limita à aquisição de concorrentes. A Monte Bravo também pretende alterar o share de empresas que integram a sua carteira de clientes. No momento, as pessoas jurídicas representam apenas 10% do portfólio de 9 mil investidores e Mattei acredita que, até o fim de 2024, essa representação possa subir para cerca de 30%.

Outro plano é inaugurar filiais em mais cidades. Atualmente a empresa tem escritórios em sete cidades – Porto Alegre, Caxias do Sul e Santa Maria, todas no Rio Grande do Sul, e nas capitais de Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Em junho, será inaugurada uma unidade em Curitiba e existe a pretensão de se posicionar em cidades do Nordeste, Centro-Oeste e interior de São Paulo. Outro ponto que aumenta a confiança dos gestores da Monte Bravo é a certeza de que a crise associada à baixa rentabilidade da renda fixa levará mais brasileiros a buscar informações junto a assessorias especializadas, tornando o mercado de capitais maior e mais atrativo. “Tirando a questão da saúde, o momento é bom para o nosso negócio”, diz o fundador do escritório de agentes autônomos que parece não se contentar em apenas ser o maior do mercado.