03/06/2020 - 15:53
Um estádio de beisebol batizado com nome do lendário Jackie Robinson, primeiro jogador negro das grandes ligas e líder pelos direitos civis, foi utilizado como “prisão” pelas autoridades de Los Angeles para os detidos nos protestos contra o racismo.
A Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) informou que o uso desse espaço esportivo pela polícia foi feito “sem conhecimento ou permissão” da instituição, que o administra.
+ Jornalistas, vítimas de um clima inédito nos EUA
+ Secretário de Defesa dos EUA é contra mobilização de militares para conter protestos
“A UCLA não recebeu um pedido da polícia de Los Angeles ou de qualquer outra instituição da cidade para transformar esse espaço em uma ‘prisão temporária’ para fichar os detidos”, declarou a universidade em nota à AFP nesta quarta-feira (3).
“A polícia de Los Angeles desocupou a propriedade e informamos que um futuro uso do local como centro de detenção não será permitido pela UCLA”.
O chefe da polícia de Los Angeles, Michel Moore, afirmou na terça que 2.700 pessoas tinham sido presas desde que os protestos começaram na última semana.
A maioria das prisões foi por violação do toque de recolher imposto desde o final de semana e 10% por saques. Não está claro onde, no estádio, os detentos foram contratados, quantos foram ou quanto tempo duraram as prisões.
O DPLA ainda não respondeu ao pedido da AFP para comentar o assunto.
“Os estudantes da UCLA foram presos por utilizarem o direito constitucional de protestarem pacificamente contra a injustiça racial, onipresente na polícia dos EUA”, declarou um grupo de professores universitários em uma carta de protesto ao uso dessas instalações.
“Eles foram detidos e mantidos em um estádio em seu próprio campus chamado Jackie Robinson, um ícone da longa e inacabada luta pela liberdade dos negros”, acrescentou a carta.
Neto de um escravo, Robinson (1919-1972) estreou no Brooklyn Dodgers em 1947, rompendo a barreira que por mais de meio século excluía os jogadores negros da principal liga de beisebol.
O estádio é de propriedade do Departamento de Veteranos (federal), mas é alugado para a universidade.
Os professores da UCLA também denunciaram que a polícia não fez uso das medidas corretas de segurança devido à pandemia do novo coronavírus, aglomerando os detidos em um ônibus para fichá-los no estádio.
Segundo a carta, os policiais não usavam máscaras ou respeitavam o distanciamento social.
“A ironia cruel é que isso aconteceu em uma instalação usada para testar casos da COVID-19”, informou a universidade.