08/06/2020 - 8:45
Menos presente na mídia e mais confuso em sua mensagem, o ex-homem forte da Itália Matteo Salvini perdeu terreno. Mas o líder de extrema direita ainda não disse sua última palavra, enquanto seu partido continua sendo o primeiro da península.
Até agosto do ano passado, Matteo Salvini era onipresente: deslocando-se em uniforme da polícia ou dos bombeiros, entrevistado em programas de televisão ou fazendo papel de DJ em um resort à beira-mar…
Mas o ministro do Interior e vice-primeiro-ministro cometeu um erro estratégico, causando uma crise do governo.
“Il Capitano” perde em seu próprio jogo: a coalizão que seu partido, a Liga, forma desde junho de 2018 com o Movimento 5 Estrelas (M5S) foi desmantelada e seu ex-aliado conseguiu constituir um novo governo com o Partido Democrata (PD, centro-esquerda).
Desde então, Matteo Salvini tem estado na oposição, um papel que ele conhece bem, mas onde se sente menos confortável depois de provar o poder.
Enquanto o chefe de Governo Giuseppe Conte pode contar com a confiança de 60% dos italianos, o índice de Salvini é de apenas 30%, segundo pesquisas de opinião.
A Liga também tem sofrido, com agora 26% das intenções de voto contra 34,3% nas europeias em 2019.
Um dos motivos? “Seu tema favorito, a imigração, entrou em segundo plano com a crise do coronavírus”, analisa Vincenzo Galasso, professor da Universidade Bocconi, de Milão.
Outro fator: diante da pandemia, Salvini mudou seu discurso e, assim, enfraqueceu sua postura: inicialmente hostil ao confinamento, ele recuou.
“Não conseguiu se diferenciar do que o governo estava fazendo, algo que sempre fez até agora com a questão da imigração”, comenta Galasso.
Sinal que a questão perdeu força, uma medida de regularização de imigrantes ilegais foi adotada no meio da crise do coronavírus, sem causar polêmica.
Em seu próprio partido, Matteo Salvini enfrenta a ascensão de Luca Zaia, presidente do Veneto, a segunda região mais afetada pela pandemia e cujo gerenciamento da crise foi considerado exemplar.
Mas “il Capitano” pretende recuperar o terreno perdido. Ele voltou ao ataque nesta segunda-feira pedindo eleições legislativas antecipadas no outono para derrubar o governo, acusado de “não ter ideias claras” e de “oposição à liberdade de empresa”.
Também visitou a Campânia (região de Nápoles, sul) na sexta-feira, antes de Marche e Abruzzo (centro) nesta segunda.
– Imagem confusa –
Salvini já tentou mobilizar novamente suas tropas, organizando com outros líderes da direita, incluindo Giorgia Meloni, líder do partido pós-fascista Fratelli d’Italia, uma manifestação em Roma em 2 de junho, para exigir a renúncia do governo.
Mas “as pessoas não respeitaram o distanciamento de segurança e os gestos de barreira: isso tem sido muito criticado, transmitindo a imagem de um líder que nem sempre é prudente”, destaca Alessandro Giacone, professor de História Contemporânea da Universidade de Bolonha.
Também deve enfrentar a espetacular ascensão de Giorgia Meloni. Agora, Fratelli d’Italia tem 14,6% das intenções de voto, contra 4,3% nas eleições legislativas de 2018.
Com seus 26%, a Liga ainda permanece muito à frente. PD e M5S registram apenas 36% das intenções de votos contra 51,4% nas eleições legislativas de 2018.
“Se houvesse eleições antecipadas, a centro-direita provavelmente prevaleceria”, observa Alessandro Giacone. Agora, “tudo depende de como Salvini fará uma aliança”, acrescenta.
“Ele hesita entre duas linhas: sua tendência seria seguir uma linha soberanista anti-europeia (e, portanto, em direção a Meloni), mas as pessoas do seu partido pedem uma posição mais moderada”, mais europeia, na direção de Silvio Berlusconi, acrescenta o especialista, enfatizando que é por causa dessa hesitação que “sua linha política não está muito clara no momento”.