15/06/2020 - 16:50
Manifestantes marcharam nesta segunda-feira (15) em Atlanta após a morte de outro homem negro pelas mãos de um policial branco desencadear novos protestos contra o racismo e a brutalidade policial nos Estados Unidos.
O Ministério Público do estado da Georgia informou que está considerando acusar o policial que disparou em Rayshard Brooks, de 27 anos, no estacionamento de um restaurante da rede Wendy’s em Atlanta na última sexta à noite.
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“Se esse disparo foi feito por alguma razão que não a de salvar a vida de um policial ou prevenir um dano a ele mesmo ou a terceiros, então os tiros não se justificam legalmente”, disse o promotor do condado de Fulton, Paul Howard.
O oficial responsável pelo tiroteio, Garrett Rolfe, foi demitido, e a diretora da polícia de Atlanta renunciou após o incidente, que ocorre apenas duas semanas e meia depois da morte de George Floyd, um homem negro que morreu asfixiado pela pressão do joelho de um policial branco contra o seu pescoço em Minneapolis.
A morte de Floyd, no último 25 de maio, desencadeou uma onda de protestos contra o racismo estrutural em todo os EUA e inúmeros chamados para uma reforma policial profunda.
Stacey Abrams, ex-candidata democrata ao cargo de governadora da Georgia, considerada como um possível nome para vice-presidência do candidato democrata Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro, afirmou que a morte de Brooks foi um “assassinato”.
“A decisão de matá-lo pelas costas talvez tenha sido tomada por impaciência, frustração ou pânico, mas nenhum delas justifica o uso de força mortal”, declarou Abrams ao canal de notícias CNN.
“Foi um assassinato”, acrescentou.
Tomika Miller, esposa de Brooks, disse à CBS que Rolfe e o outro policial que estava com ele deveriam ser presos.
“Se meu marido tivesse atirado neles, ele já estaria na prisão”, disse Miller. “Ele estaria cumprindo uma sentença de prisão perpétua”, ressaltou.
Brooks foi baleado nas costas quando escapava da polícia, depois de uma briga com eles, filmada por câmeras de segurança.
A autópsia indicou que ele morreu por duas balas nas costas.
– “Estamos cansados de que nos matem” –
Centenas de manifestantes foram às ruas de Atlanta nesta segunda, em ato convocado pela seção da Georgia da maior organização do país para a defesa dos direitos afro-americanos, a Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, em inglês).
“Estamos cansados de sermos mortos”, escreveu a NAACP em comunicado.
“A NAACP da Georgia usará seu direito constitucional para exigir que os legisladores estaduais atendam às nossas exigências legais e garantam a reforma da justiça penal (…) e acabem com a violência policial contra nossas comunidades”.
Lloyd Pierce, técnico do Atlanta Hawks, da NBA, falou com a multidão fora da Câmara dos Deputados do estado, onde os parlamentares da Georgia se reuniam em sessão pela primeira vez desde o início da pandemia de coronavírus.
Floyd, 46 anos, morreu quando um policial branco se ajoelhou no pescoço por quase nove minutos. O incidente provocou uma onda de distúrbios civis de magnitude não vista nos Estados Unidos desde o assassinato do ativista dos direitos civis, Martin Luther King Jr., em 1968.
A reforma da polícia tem sido uma das demandas mais persistentes dos manifestantes, que tomaram as ruas de várias cidades americanas.
A prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, anunciou nesta segunda a criação de um grupo de trabalho para revisar o uso da força pela polícia.
O objetivo será “criar melhores políticas e melhorar o treinamento de nossos agentes, para que eles possam lidar adequadamente com as situações e sejam capazes de evitar qualquer uso excessivo da força”, disse Lightfoot.
Na Califórnia, os sindicatos policiais em San Jose, São Francisco e Los Angeles condenaram a morte de Floyd, e prometeram revisar suas políticas sobre o uso da força, assim como remover policiais com conduta racista das ruas.
– ‘Desfinanciar a polícia’ –
Alguns ativistas da esquerda estão usando como slogan o conceito de “interromper o financiamento da polícia”, algo que o presidente Donald Trump rapidamente usou para atacar seu rival democrata pela Casa Branca, Joe Biden.
Por sua parte, Biden tentou distanciar o Partido Democrata desse movimento e, em vez disso, defendeu o aumento do financiamento para a vigilância comunitária.
A morte de Brooks ocorreu quando a polícia respondeu a uma queixa de que o homem estava dormindo em seu carro, e com isso impedia a entrada de novos clientes ao estacionamento do Wendy’s, um restaurante de fast food.
Um teste mostrou que Brooks havia bebido e, quando a polícia tentou prendê-lo, o jovem resistiu e começou uma briga.
Imagens do incidente, divulgadas pela polícia no último domingo, mostram uma briga entre policiais e Brooks, que consegue pegar a pistola Taser (arma imobilizadora) de um dos policiais e foge.
No entanto, enquanto a polícia afirma que “Brooks virou e apontou o Taser para o policial que portava uma arma”, as imagens mostram que o homem vira de costas para o policial, quando em sequência ele atira.
A sucursal do Wendy, onde Brooks morreu, foi incendiada por manifestantes no sábado.