07/07/2020 - 10:10
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi acusado nesta terça-feira (7) de distorcer a realidade, após sugerir que a negligência de algumas casas de repouso para idosos contribuiu para propagar a COVID-19 nessas instituições com várias mortes pela doença.
“Descobrimos que várias casas não seguiram realmente os procedimentos da maneira que poderiam ter feito”, disse o líder conservador em uma entrevista na segunda-feira (6).
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Essas declarações provocaram indignação no Reino Unido, o país da Europa mais castigado pelo coronavírus, com mais de 44.000 mortes confirmadas, e 54.000, se forem incluídos os casos suspeitos.
Destes, 14.852 foram registrados em lares para idosos na Inglaterra e em Gales, conforme dados divulgados hoje pelo Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS, na sigla em inglês).
A declaração de Johnson “foi grosseira e covarde, no melhor dos casos”, denunciou indignado o diretor da organização Community Integrated Care, Mark Adams, em entrevista à rádio pública BBC.
“Se esse é realmente seu ponto de vista, acho que estamos quase entrando em uma realidade alternativa kafkiana, onde o governo estabelece as regras, nós as seguimos, eles não gostam do resultado, então negam ter estabelecido regras e culpam as pessoas que se esforçaram para fazer todo o possível”, afirmou.
A diretora do National Care Home Forum, Vic Rayner, também reclamou desses comentários “totalmente inapropriados” e denunciou que os lares para idosos britânicos tiveram de “lidar com um número extraordinário de regras diferentes ditadas pelo governo quase diariamente”.
O ministro de Negócios, Alok Sharma, tentou defender Johnson, ao afirmar que ele não estava “culpando as casas de repouso”.
“O que o primeiro-ministro disse foi que ninguém sabia quais eram os procedimentos corretos, porque sabemos que a extensão dos casos assintomáticos não era conhecida até então”, disse à BBC.
Criticado por sua gestão da crise de saúde, o governo britânico foi acusado de não reagir a tempo para proteger os funcionários e os residentes das casas de repouso.
No início da pandemia, representantes do setor alertaram sobre a falta de equipamentos de proteção e do retorno, às vezes prematuro, aos estabelecimentos dos pacientes com COVID-19 que saíam do hospital.