19/08/2020 - 16:48
Dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) observaram que as incertezas em torno das perspectivas econômicas permanecem elevadas, considerando o avanço da covid-19 em algumas regiões do mundo, informa a ata da autoridade monetária, divulgada no período da tarde desta quarta-feira, 19.
Por isso, diz o texto, em um cenário pessimista em torno da pandemia, pode haver uma nova quarentena no fim de 2020. “O Produto Interno Bruto (PIB) volta a se contrair e o desemprego, a subir”, alerta a ata, sobre tal cenário hipotético de retomada de grandes restrições econômicas.
De acordo com o documento, os integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) veem risco de inflação no longo prazo abaixo da meta de 2%, sobretudo diante de um cenário mais pessimista. Há algum tempo, os dirigentes vêm alertando sobre os efeitos desinflacionários da crise do novo coronavírus.
Mercado de trabalho
A desaceleração do ritmo de melhora do mercado de trabalho é uma realidade para muitos dirigentes do Federal Reserve, diz a ata da mais recente reunião da autoridade monetária.
“O número crescente de casos de coronavírus em muitas partes do país levou a atrasos na reabertura de algumas empresas e também à retomada de alguns fechamentos”, diz o texto. “Além disso, os dirigentes enfatizaram que o mercado de trabalho estava longe de uma recuperação total, mesmo após os relatórios de emprego (payroll) positivos de maio e junho”, completa.
Os integrantes do Fomc concordaram que melhorias substanciais no mercado de trabalho americano dependem de uma reabertura ampla e sustentada” das empresas – muitas delas, ainda em condições desafiadoras, afirma o documento. “Por sua vez, tal reabertura dependeria em grande parte da eficácia das medidas de saúde tomadas para limitar a propagação do coronavírus”, defende a ata.
Condições financeiras
O Federal Reserve avalia que, no período entre a penúltima e a última reunião, “as condições financeiras relaxaram levemente”, mostra a ata. Os índices de preços de ações “estavam relativamente estáveis”, em meio ao maior temor de novas ondas da covid-19 nos Estados Unidos, aponta o documento. “Ao mesmo tempo, os juros dos Treasuries e outros retornos soberanos recuaram e o dólar dos EUA enfraqueceu. No geral, a volatilidade permanecia contida, com relação a períodos recentes”, diz a ata.
Os dirigentes notaram que, no período, o S&P 500 havia mudado pouco, mas o efeito das novas ondas do vírus “eram evidentes” nos desempenhos diferenciados entre setores do índice acionário, com ações de companhias ligadas a hotéis a aviação mais pressionadas, por exemplo.
A ata diz ainda que as condições nos mercados de financiamento em dólar no curto prazo também estavam “estáveis”. Diante de melhora nas condições entre os mercados, o balanço do Fed recuou no período entre reuniões, de US$ 7,2 trilhões a US$ 7,0 trilhões, com reduções em operações de repo e em operações de swap em circulação.
Além disso, a ata aponta que a manutenção de acordos de swap temporários, bem como de um instrumento de repo temporário (FIMA, na sigla em inglês) até março do próximo ano, deve ajudar a sustentar melhoras recentes no financiamento nos mercados de dólar globais. Na reunião, o comitê votou por unanimidade para estender o acordo temporário FIMA, até 31 de março de 2021, diz o documento.
Riscos
A ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve traz ainda relatos de dirigentes sobre riscos de insolvência entre empresas e riscos à estabilidade financeira. “Vários dirigentes comentaram sobre vários riscos potenciais para a estabilidade financeira. Bancos e outras instituições financeiras podem sofrer estresse significativo, principalmente se ocorrer um dos cenários mais adversos de disseminação do coronavírus e seus efeitos na atividade econômica”, alerta a ata. “As empresas não financeiras carregaram altos níveis de endividamento durante a pandemia, aumentando seu risco de insolvência”, completa.
Mesmo assim, a autoridade monetária defende que as medidas tomadas pelo Fed recentemente devem ajudar na “resiliência” dos bancos, citando os testes de estresse aplicados pela autoridade neste ano. “Alguns participantes defenderam que os limites de distribuição de lucros a acionistas deveriam ser estendidos, enquanto outros consideraram que tal medida seria prematura neste momento”, informa o documento.