09/10/2020 - 11:27
Após um ano de pesquisas no Polo Norte, a maior expedição científica nesta área retornará para a Alemanha na próxima segunda-feira (12) com uma conclusão preocupante: a camada de gelo do Ártico está derretendo “a um ritmo alarmante”.
Devido à pandemia do novo coronavírus, o retorno do navio quebra-gelo “Polarstern”, do Instituto Alfred-Wegener alemão, a seu porto natal de Bremerhaven, no noroeste do país, será feito com relativa discrição.
+ Furacão Delta se aproxima dos EUA e população foge na Louisiana
+ Governo manda 71 soldados para reforçar combate a fogo no Pantanal
Mas os dados abrangentes que as equipes internacionais reuniram durante os meses em que o navio de pesquisa científica explorou o Polo Norte fornecerão informações valiosas sobre as mudanças climáticas.
Durante o verão, os cientistas puderam ver com os próprios olhos o avanço do retrocesso da banquisa nessa região, considerada pelos cientistas como “o epicentro do aquecimento global”, segundo o chefe da missão, Markus Rex.
– “Gelo cheio de buracos” –
“Vimos grandes superfícies de água líquida quase até o polo, rodeadas por gelo crivado de buracos, devido ao derretimento maciço”, disse o climatologista e físico.
“A camada de gelo do Ártico está derretendo em um ritmo alarmante”, advertiu.
Esse diagnóstico se confirma por observações de satélites nos Estados Unidos, que revelaram que o banco de gelo do verão derreteu até representar uma superfície que é a segunda menor registrada historicamente, depois de 2012.
Durante 389 dias, a missão, batizada de MOSAIC, estudou a atmosfera, o oceano, a camada de gelo e o ecossistema para coletar dados que avaliarão o impacto das mudanças climáticas na região e no mundo.
A análise completa dos dados deve levar de um a dois anos.
O objetivo é desenvolver modelos de previsão do clima para determinar como serão as ondas de calor, chuvas fortes, ou tempestades em 20, 50, ou 100 anos.
“Para construir modelos climáticos, precisamos de observações in situ”, explica à AFP Radiance Calmer, pesquisadora de ciências atmosféricas da Universidade americana do Colorado que esteve no “Polarstern” de junho a setembro.
Com a ajuda de um drone, “medimos a temperatura, a umidade, a pressão e o vento”, o que “nos dará uma imagem muito útil da camada atmosférica para estabelecer um modelo climático”, diz a cientista, que descreve como “mágico” o momento em que pisou na banquisa.
“Você consegue sentir como se movimenta se você se concentrar (…) É importante ter esse tempo para observar, não apenas para focar no trabalho”, explicou.
Desde a partida da expedição de Tromsø, na Noruega, em 20 de setembro de 2019, os cientistas passaram longos meses na escuridão absoluta, com temperaturas caindo para -39,5°C, e foram visitados por cerca de 20 ursos polares.
Na primavera, a pandemia de coronavírus interrompeu a aventura, pois as equipes tiveram de ficar por mais dois meses no Polo Norte.
Ao todo, centenas de especialistas e cientistas de 20 países diferentes permaneceram no navio alemão, que deslizou ao longo do gelo após a chamada deriva polar, a corrente oceânica que flui de leste a oeste no oceano Ártico.
Os pesquisadores também estudaram a vida sob o gelo e coletaram amostras de água para analisar o plâncton vegetal e as bactérias. O objetivo é entender melhor o funcionamento do ecossistema em condições extremas.