23/10/2020 - 17:43
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira (23) a normalização das relações diplomáticas entre Israel e Sudão, alegando uma “grande vitória” para a paz mundial a 11 dias das eleições em que tentará a reeleição.
Emirados Árabes e Bahrein assinaram um acordo no mês passado na Casa Branca no mesmo sentido, mas o caso do Sudão era mais simbólico porque esteve em guerra com Israel.
Trump anunciou o acordo entre Israel e Sudão após comunicar formalmente ao Congresso sua intenção de retirar Cartum da lista de patrocinadores do terrorismo, o que o país árabe buscava há tempos.
Jornalistas na Casa Branca presenciaram uma conversa telefônica no Salão Oval entre Trump e os líderes israelenses e sudaneses. Fizeram “as pazes”, disse Trump.
“Estamos expandindo o círculo da paz tão rápido, graças à sua liderança”, disse ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aliado de Trump.
Em uma declaração em separado, Netanyahu elogiou a “formidável mudança” por parte do Sudão, enquanto a presidência da Autoridade Palestina expressou sua “condenação” e seu “repúdio” ao acordo, enquanto o movimento islamita palestino Hamas, no poder na Faixa de Gaza, o qualificou de “pecado político”.
Trump disse que outros países árabes querem reconhecer Israel, inclusive a Arábia Saudita, potência regional, lar das duas cidades mais sagradas do islã.
“Temos pelo menos cinco que querem se somar”, afirmou. “Esperamos que a Arábia Saudita seja um destes países”, acrescentou.
Embora Trump não tenha mencionado nenhum outro país, Omã e Mauritânia estariam inclinados a ter vínculos com Israel.
Até o mês passado, os únicos países árabes que tinham reconhecido Israel eram Jordânia e Egito, que fizeram as pazes com seu vizinho com a mediação dos Estados Unidos.
– Lista negativa –
Como parte do pacto para que o Sudão deixe a lista de países patrocinadores do terrorismo, na qual está desde 1993, a Casa Branca disse que o governo em Cartum tinha depositado 355 milhões de dólares destinados às vítimas americanas de atentados.
Isto inclui indenizações por ataques da rede Al Qaeda em 1998 contra as embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia, que deixaram mais de 200 mortos.
O Sudão, que foi pária da comunidade internacional por abrigar o líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, nos anos 1990, foi acionado pelos tribunais americanos a pagar estas compensações.
O primeiro-ministro civil do Sudão, Abdallah Hamdok, agradeceu a Trump por deixar de considerar Cartum promotor do terrorismo, o que permitirá ao país voltar ao setor financeiro internacional e captar investimentos.
Desde a queda do regime de Omar al Bashir, em abril de 2019, o Sudão é chefiado por um governo de transição, no qual civis e militares dividem o poder até as eleições, previstas para 2022.
Este governo enfrenta dificuldades econômicas com uma forte depreciação da libra sudanesa, razão pela qual deixar a lista americana é primordial.
Também participou do telefonema o principal general do Sudão, Abdel Fatah al Burhan, que se reuniu com Netanyahu no começo do ano em Uganda.
– “GRANDE vitória” –
Trump, em desvantagem nas pesquisas para as eleições presidenciais, comemorou no Twitter o que considerou uma “GRANDE vitória para os Estados Unidos e a paz mundial”.
Washington aumentou a pressão para que o Sudão reconhecesse Israel antes das eleições de 3 de novembro, assegurando que não existia um vínculo entre a suspensão das sanções americanas e a normalização das relações, mas muitos observadores pensavam o contrário.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, tinha expressado sua esperança esta semana de que o Sudão admitisse “rapidamente” ao Estado hebreu, um tema que interessa especialmente aos cristãos evangélicos que apoiam Trump.
Após a comunicação formal de Trump, o Congresso tem 45 dias para se pronunciar. Não se espera que bloqueie a exclusão do Sudão da lista, mas também deve aprovar a legislação para outorgar imunidade ao Sudão ante novas reclamações.
Até então, os 335 milhões de dólares serão mantidos em uma conta de depósito como garantia.
Os Estados Unidos já tinham se aproximado de Cartum durante o governo do ex-presidente democrata Barack Obama. A revolução que depôs Al Bashir não fez senão acelerar o processo.