Em São Paulo, a chance de arrumar um emprego perto de casa é 291 vezes maior na região central do que no afastado Iguatemi, distrito do extremo leste da capital. As disparidades sociais e econômicas em vários aspectos do dia a dia do paulistano estão no mais recente Mapa da Desigualdade, lançado nesta quinta-feira, 29, pela Rede Nossa São Paulo, com participação de alguns dos candidatos à Prefeitura.

Neste ano, em função da pandemia de covid-19, o tema emprego e renda tem dominado a campanha e gerado propostas que incluem de auxílio e empréstimos à criação de bancos exclusivos para a população de áreas mais periféricas.

O atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), que tenta a reeleição e deve sancionar nos próximos dias um projeto de lei que cria o renda mínima paulistana no valor de R$ 100, diz agora que pretende “criar zonas de flexibilização tributária para atrair empresas” a áreas onde há moradia, mas não emprego.

A medida proposta se assemelha a outros programas já lançados por três antecessores do tucano na Prefeitura: Marta Suplicy, Gilberto Kassab e Fernando Haddad. Todos propuseram isenções ou descontos de impostos e incentivos construtivos para empresas se instalarem em áreas mais periféricas, como o extremo da zona leste.

Para o coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, propostas como a de Covas ilustram a necessidade de se investir em políticas de Estado. “A continuidade é fundamental. A desigualdade de oportunidades não interessa a ninguém, isso agora é mais do que sabido. Concentrar os empregos no centro da cidade obriga as pessoas a se deslocarem por horas no transporte público. Isso gera poluição, que gera problemas respiratórios, mortes, baixa qualidade de vida. E para todos”, ressalta.

Abrahão, que hoje lança a nova edição do mapa, comenta ainda que a pandemia de covid-19 obrigou a população a olhar mais para o seu território. “Isso é uma tendência que pode gerar estímulo local desde que a Prefeitura proporcione infraestrutura, por exemplo. Está na hora de termos essa visão.”

O economista Gustavo Fernandes, professor de finanças públicas da FGV-SP, diz que propostas que visam aproximar emprego e moradia, apesar de recorrentes, continuam sendo necessárias até para mudar a forma de circulação das pessoas na cidade e reduzir a pressão sobre o transporte público de massa.

Os mapas da Rede Nossa São Paulo mostram exatamente as consequências de o emprego estar tão distante na grande maioria dos distritos da capital, com exceção da realidade nos bairros mais nobres. O impacto mais claro e o que reduz de forma muito direta a qualidade de vida de quem mora nas periferias é o tempo de deslocamento diário no transporte.

Para quem mora nos distritos do Brás, Consolação, Barra Funda e Bela Vista, por exemplo, esse tempo é de cerca de meia hora. Já quem vive em Cidade Tiradentes, no extremo leste, ou Marsilac, no extremo, as viagens só de ida ao trabalho demoram aproximadamente duas horas.

Apresentado aos postulantes desta eleição, o material completo da Rede Nossa São Paulo ainda contém dados de cultura, saúde, violência, meio ambiente, direitos humanos, habitação e educação.