17/11/2020 - 6:30
O imunologista Anthony Fauci, um dos nomes mais respeitados nesta área nos Estados Unidos, classificou na segunda-feira como “incrivelmente impressionantes” os primeiros resultados da vacina do laboratório americano Moderna contra a covid-19.
“Tenho que admitir que estaria satisfeito com uma taxa de eficácia de 70% ou no máximo 75%”, disse Fauci à AFP. “O fato de termos 94,5% de eficácia em uma vacina é incrivelmente impressionante. É um resultado realmente espetacular e acredito que ninguém previu que seria tão bom”, completou.
+ Nova vacina eficaz contra a covid-19 aumenta esperanças de vencer a pandemia
+ OMS comemora ‘notícias animadoras’ das vacinas, mas alerta contra relaxamento
O cientista é o diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Contagiosas dos Estados Unidos, que iniciou o desenvolvimento da vacina em parceria com a Moderna em janeiro, pouco depois que as autoridades chinesas divulgaram a sequência genética do novo coronavírus.
A vacina é baseada em uma tecnologia recente que consiste em inserir instruções genéticas no organismo para que as células produzam um antígeno do coronavírus e desenvolvam uma resposta do sistema imunológico.
“Muitas pessoas tinham dúvidas com o uso de algo que ainda não havia sido testado”, recordou Fauci. “De fato, algumas pessoas até nos criticaram por isso”.
O resultado da vacina da Moderna significa que o risco de contrair a covid-19 tem redução de 94,5% entre o grupo vacinado no grande teste clínico realizado com 30.000 pessoas nos Estados Unidos.
De acordo com a análise preliminar dos primeiros casos, 90 participantes no grupo placebo foram contagiados e apenas cinco no grupo de vacinados.
– Nenhum caso grave entre os vacinados –
“Tivemos 11 casos graves, nenhum no grupo vacinado e 11 no grupo placebo. Então isso resolve a questão de saber se (a vacina) previne formas graves da doença, o que definitivamente acontece”, afirmou Fauci.
Ainda não está claro quanto tempo dura o efeito da vacina e apenas o tempo vai mostrar. Fauci disse estar confiante de que a duração será significativa, mas “não sabemos se será de um ano, dois anos, três anos, cinco anos, não sabemos”.
Se o nível de eficácia for o mesmo na população em geral que no teste clínico, esta seria uma das vacinas mais eficazes disponíveis, comparável a do sarampo, com uma eficácia de 97% em duas doses, e muito melhor do que a vacina contra a gripe (19 a 60% nos últimos anos), de acordo com os Centros para o Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
A parceria entre o laboratório americano Pfizer a alemã BioNTech anunciou na semana passada uma vacina com eficiência de 90% contra a covid-19, com a mesma tecnologia.
“Os dados falam por si, não sou eu, não é minha opinião, olhe para os dados”, disse Fauci. “Penso que quando você tem duas vacinas como estas, que demonstraram uma efetividade de mais de 90%, a tecnologia não tem mais nada o que demonstrar”.
O imunologista recordou, no entanto, que “ainda resta um longo caminho a percorrer” para vacinar a população e se mostrou preocupado com o número de pessoas contrárias às vacinas nos Estados Unidos, país mais afetado do mundo pela pandemia.
“O sentimento antivacina é grande neste país”, disse. “É preciso superar isso e convencer a população sobre a vacinação, porque uma vacina com alto grau de eficácia não tem utilidade se ninguém for vacinado”.