18/11/2020 - 14:15
Para convencer os passageiros relutantes a embarcar em um modelo de aeronave que caiu duas vezes em cinco meses, deixando 346 mortos, a Boeing e as companhias aéreas têm uma tarefa difícil.
“Não quero ser uma cobaia, provavelmente vou esperar dois ou três anos antes de voar no MAX”, ressalta Gabriel Contassot, entusiasta da aviação que sempre verifica quais aeronaves a empresa escolhida oferece antes de comprar uma passagem.
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“A ideia de voar em um avião cujo software foi simplesmente corrigido me assusta”, acrescenta.
Ele não confia muito na Boeing ou na Federal Aviation Agency (FAA) dos Estados Unidos, que autorizou o retorno do Boeing 737 MAX após quase dois anos de suspensão em razão de dois acidentes que deixaram um total de 346 mortos em cinco meses.
“Muitos clientes inicialmente hesitarão em viajar em um 737 MAX”, afirmou Henry Harteveldt, especialista do setor de viagens.
As grandes companhias aéreas dos Estados Unidos garantem que informarão aos clientes em qual modelo de aeronave estarão viajando.
A American Airlines – que planeja reincorporar o 737 MAX em seu quadro no final de dezembro, caso a FAA permita – pretende restaurar a confiança dos consumidores organizando voos para membros da tripulação e presentear companhias e agências de viagens que trabalham regularmente com a companhia aérea a visitar o modelo, além de promover conversas com seus especialistas.
A Boeing oferece um vídeo em seu site explicando as mudanças no sistema MCAS, o software de voo envolvido nos dois acidentes.
No entanto, tanto a fabricante quanto as companhias aéreas aguardam as decisões dos reguladores para desvendar sua estratégia de comunicação.
O momento também não é propício para uma grande campanha de segurança da aviação, em um momento em que uma segunda onda de casos da covid-19 está ocorrendo na Europa e nos Estados Unidos.
Qualquer operação promocional também é complicada porque pode reviver a memória dos acidentes da Lion Air e da Ethiopian Airlines e das 346 vidas perdidas.
– Confiança dos pilotos –
Mas os analistas esperam que os temores desapareçam com o tempo.
“Lembre-se do DC 10, que sofreu vários acidentes trágicos na década de 1970”, diz o analista Henry Harteveldt.
“McDonnell Douglas, fabricante do avião, fez muitas mudanças (…) e o DC 10 finalmente voou 45 anos sem problemas (…) Quando (o modelo) foi aposentado, as pessoas lamentavam”.
Atualmente, muitos viajantes têm medo de voar e o tráfego caiu consideravelmente por causa da pandemia da covid-19.
Quando voltar ao normal, o 737 MAX terá acumulado entre seis meses e um ano de voo sem acidentes, os passageiros estarão mais tranquilos e não prestarão mais atenção ao nome do aparelho, segundo vários analistas.
No momento, a Boeing mantém o nome do modelo, mas geralmente se refere às várias aeronaves da família usando seu nome oficial: 737-7, 737-8 ou 737-9.
A empresa deve abandonar definitivamente o termo MAX? As opiniões são variadas.
Desde que ingressou na sede da Boeing em janeiro, David Calhoun “reiterou que confiança e transparência são o que a empresa precisa para reconquistar clientes”, explica Michael Eisen, analista da RBC Capital Markets.
“Do ponto de vista de marketing, uma mudança de nome poderia ajudar, mas iria contra a mensagem (de transparência) da empresa”, acrescenta.
“Provavelmente seria mais prudente dizer: ‘Ainda é o MAX, nós o consertamos e aqui está ele, porque é o avião mais seguro'”, finaliza Eisen.
Richard Aboulafia, da Teal Group Corporation, não ficaria surpreso se o nome MAX desaparecesse gradualmente.
“Fora os especialistas do setor, poucas pessoas realmente distinguem o 737 NG do 737 MAX”, observa.
Na mesma linha, Michel Merluzeau, da empresa AIR, diz que “90% dos passageiros não sabem em que avião estão embarcando; as pessoas compram (bilhetes aéreos) principalmente por preço, horas ou frequência (de voo)”.
O piloto Jon Weaks, presidente da Southwest Pilots Union, tem total confiança na aeronave.
“Fazemos nossa própria análise”, disse à AFP.
“Se os passageiros ainda estiverem em dúvida, eles devem se lembrar que colocamos nossos familiares e amigos nos aviões que voamos. Se um de nós estiver no banco do motorista, tudo ficará bem”, reitera.