23/11/2020 - 10:55
O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy comparece a um tribunal em Paris nesta segunda-feira, para ser julgado por corrupção e tráfico de influência, com o objetivo de obter informações privilegiadas sobre outro caso no qual estava envolvido.
É a primeira vez na história do pós-guerra que um presidente francês é julgado por corrupção.
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Em dezembro de 2011, o ex-presidente francês Jacques Chirac, na presidência de 1995 a 2007, antecessor de Sarkozy e, durante anos, mentor político, foi condenado a dois anos de prisão por peculato, mas sua saúde impediu-o de comparecer em tribunal.
Terno preto e camisa branca, Sarkozy chegou ao tribunal por volta das 13h20 (8h20 de Brasília) cercado por jornalistas. Na sala de audiências, ele cumprimentou os advogados e promotores.
Enquanto a presidente do tribunal criminal Christine Mée pronunciava sua identidade completa, Nicolas Sarkozy de Nagy Bocsa, respondeu “Sarkozy, é o suficiente”.
A magistrada explicou que o processo previa isso para o registo criminal. Ele respondeu, encolhendo os ombros, “até agora não precisei usá-lo”.
Ele então se sentou em uma cadeira vermelha ao lado de seu amigo advogado e co-réu Thierry Herzog. A cadeira do terceiro réu, Gilbert Azibert, permaneceu vazia, seu advogado solicitou o adiamento do julgamento de seu cliente de 73 anos.
Sarkozy, de 65 anos, presidente de 2007 a 2012, nega as acusações e prometeu que será “combativo” neste julgamento em que aparece ao lado de seu amigo de longa data e advogado Thierry Herzog, e o juiz agora aposentado Gilbert Azibert.
Para o ex-presidente, que afirma ser inocente, o caso é um “escândalo” que ficará para a história.
Se condenado, Sarkozy, que se aposentou da política após sua derrota na corrida Elysian em 2016, poderá enfrentar uma pena de prisão de até 10 anos e uma multa máxima de um milhão de euros.
O julgamento, que deve durar três semanas, dependerá da evolução da epidemia de covid-19, que atrapalhou as audiências de outros casos em Paris nas últimas semanas, e de um pedido de suspensão apresentado por motivos médicos pelo juiz Azibert, 73 anos.
O caso conhecido como o das “escutas” tem origem em outro caso que ameaça Nicolas Sarkozy, o das suspeitas de que recebeu financiamento do regime líbio de Muammar Gaddafi durante a campanha presidencial de 2007 que o levou ao Eliseu.
Os juízes decidiram grampear o telefone do ex-presidente e foi assim que descobriram que ele tinha uma linha secreta, para falar com seu advogado, na qual ele usava o pseudônimo de “Paul Bismuth”.
Segundo os investigadores, algumas das conversas que teve ali revelaram a existência de um acordo de corrupção. Junto com seu advogado, Thierry Herzog, Sarkozy teria tentado obter informações secretas de outra investigação por meio do juiz Gilber Azibert.
Azibert também teria tentado influenciar seus colegas a favor de Sarkozy. Em troca, Sarkozy teria prometido ao magistrado ajudá-lo a conseguir um cargo altamente cobiçado no Conselho de Estado de Mônaco. Uma posição que ele nunca conseguiu.
– “Eu o farei ascender” –
“Eu o farei ascender”, disse Sarkozy a Herzog, de acordo com a acusação. Mas, alguns dias depois, Sarkozy diz a seu advogado que não fará esse “movimento” com as autoridades monegascas.
Sinal, segundo os promotores, de que os dois homens souberam que a linha estava grampeada.
“São pequenos fragmentos de frases tiradas do contexto”, disse o advogado de Herzog, Paul-Albert Iweins, à rádio France Info nesta segunda-feira, referindo-se apenas a “conversas entre amigos de longa data”.
Em outubro de 2017, o gabinete do procurador financeiro nacional da França comparou os métodos de Nicolas Sarkozy aos de “um criminoso experiente”.
Os três réus negam qualquer “acordo corrupto”.
“Vou me explicar no tribunal porque sempre cumpri minhas obrigações”, Sarkozy reiterou recentemente no canal francês BFMTV, e jurou: “Não sou corrupto”.
Nicolas Sarkozy acredita que é vítima de uma exploração política da justiça contra ele.