23/11/2020 - 20:43
Alejandro Mayorkas, escolhido nesta segunda-feira (23) pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, para dirigir o Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês), é um imigrante cubano que já anunciou a intenção de reverter a política anti-imigração do presidente em fim de mandato Donald Trump.
Se for confirmado pelo Senado, Mayorkas, nascido em 24 de novembro de 1959, em Havana, será o primeiro hispânico e imigrante a chefiar o DHS, a entidade do governo federal encarregada da imigração e da segurança fronteiriça.
Filho de um judeu cubano e uma judia romena que chegaram em 1960 aos Estados Unidos, fugindo da revolução de Fidel Castro, Mayorkas, mais conhecido pelo apelido, “Ali”, viveu na própria pele os direitos dos refugiados.
“Quando era muito jovem, os Estados Unidos proporcionaram a mim e à minha família um lugar de refúgio”, escreveu no Twitter.
“Agora, fui nomeado para ser secretário do DHS e supervisionar a proteção de todos os americanos e aqueles que fogem da perseguição, em busca de uma vida melhor para eles e seus entes queridos”, afirmou.
Este advogado e ex-procurador federal, que viveu primeiro em Miami e depois se radicou com a família em Los Angeles, conhece bem o cargo.
Como o cubano-americano no mais alto cargo no governo de Barack Obama, de quem Biden foi vice-presidente, foi vice-secretário do DHS entre 2013 e 2016. Antes disso, foi diretor dos Serviços de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS) de 2009 a 2013.
Sobretudo, Mayorkas é considerado o arquiteto da Ação Diferida para Chegadas na Infância (DACA), a política migratória instaurada por Obama por ordem executiva para permitir a residência temporária aos vindos ainda crianças como imigrantes sem documentos, também conhecidos como “dreamers”.
Desde sua chegada ao poder em 2017, Trump tentou cancelar o DACA, que ampara atualmente 700.000 “dreamers”, a maioria latino-americanos. Mas Biden prometeu garanti-lo quando assumir o cargo, em 20 de janeiro.
– “Um mandato para reformar o DHS”-
Mas o desafio que Mayorkas enfrenta vai além de pôr um fim às questões migratórias de Trump, em particular a separação das famílias e o isolamento de crianças para dissuadir a imigração ilegal.
Criado em 2002, em resposta aos atentados de 11 de setembro de 2001 para coordenar melhor a segurança do país, o DHS conta com 240.000 funcionários e combina 22 agências federais previamente distribuídas entre vários departamentos, como a Guarda Costeira, o Serviço de Controle de Imigração e Alfândega (ICE), a Patrulha Fronteiriça, o Serviço Secreto e a Agência Federal para a Gestão de Emergências (Fema).
E sua missão se politizou fortemente sob o governo Trump. Na semana passada, por exemplo, o presidente republicano demitiu abruptamente, através de um tuíte, o chefe de segurança eleitoral, subordinado ao DHS, Chris Krebs, que tinha rejeitado suas afirmações de “fraude maciça” nas eleições de 3 de novembro.
“Depois da crueldade e da devastação causadas pela administração Trump, Mayorkas tem um mandato para reformar o DHS”, disse Joaquín Castro, o legislador democrata que preside a bancada hispânica na Câmara Baixa do Congresso.
“Tem a experiência necessária para realizar reformas muito necessárias”, destacou em um comunicado.
Jeh Johnson, ex-secretário do DHS durante o governo Obama, também comemorou a escolha de Mayorkas, ao considerar que a credibilidade do DHS “realmente levou uma surra” durante o governo de Trump.
“Não posso pensar em ninguém mais qualificado”, manifestou-se em um fórum do centro de especialistas CNAS.
Durante sua passagem pelo DHS, Mayorkas também negociou acordos de cibersegurança e segurança nacional com governos estrangeiros, liderou a resposta do DHS aos vírus ebola e zika, ajudou a criar e administrar uma campanha para combater o tráfico de seres humanos, e desenvolveu um programa de ajuda emergencial para jovens órfãos após o terremoto de janeiro de 2010 no Haiti, destacou a equipe de Biden.
Licenciado com louvor na Universidade da Califórnia em Berkeley e graduado em direito pela universidade jesuíta Loyola Marymount em Los Angeles, Mayorkas começou na administração pública no Departamento de Justiça dos Estados Unidos, onde foi procurador federal auxiliar do distrito central da Califórnia e em seguida procurador federal nomeado pelo ex-presidente Bill Cliton.
No setor privado, Mayorkas trabalhou no escritório O’Melveny & Myers e nos últimos anos, na empresa internacional WilmerHale. Também trabalha com organizações sem fins lucrativos que prestam serviços legais aos pobres e colaboram no reassentamento de refugiados e na educação de jovens desfavorecidos, segundo a equipe de Biden.