01/12/2020 - 19:50
Cientistas da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e da empresa de biotecnologia Regeneron estão pesquisando se uma tecnologia desenvolvida para terapia gênica pode ser usada para criar um spray nasal que evite infecções pelo novo coronavírus.
A ideia é utilizar um vírus enfraquecido como veículo para levar instruções genéticas às células do nariz e da garganta, para que criem anticorpos capazes de impedir o coronavírus de invadir o corpo humano.
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Os cientistas estão testando essa tecnologia em animais. Segundo o gerente do projeto, o professor de Medicina James Wilson, se o spray funcionar, ele poderá proporcionar cerca de seis meses de proteção com uma única dose.
Wilson é um pioneiro da terapia gênica, que envolve a inserção de código genético nas células dos pacientes para corrigir defeitos e tratar doenças.
Sua equipe de pesquisa descobriu que vírus adeno-associados, que infectam animais e outros primatas sem causar doenças, podem ser modificados para transportar DNA saudável para as células.
Esse trabalho levou à aprovação em 2019 do Zolgensma, o primeiro tratamento para atrofia muscular espinhal, e outras possíveis aplicaçõea dos vírus adeno-associados estão agora sendo investigadas.
O governo dos EUA entrou em contato com Wilson em fevereiro para ver se sua equipe poderia usar a tecnologia contra a covid-19.
Porém, os cientistas da Universidade da Pensilvânia não conseguiram avançar antes que a Regeneron desenvolvesse dois promissores anticorpos sintéticos contra o coronavírus, que aderem à superfície da proteína do patógeno e e ele invada as células.
Os anticorpos da Regeneron estão em ensaios clínicos, mas já receberam aprovação de emergência para uso em pacientes com covid-19 leve ou moderada com alto risco de sofrer uma variante grave da doença.
Os médicos que trataram o presidente dos EUA, Donald Trump, quando ele contraiu o coronavírus, administraram esses anticorpos.
Os pesquisadores esperam que o spray nasal seja capaz de entrar nas células epiteliais nasais e modificar sua produção de proteínas para que gerem os anticorpos da Regeneron.
Normalmente, as células imunológicas são as únicas que podem criar anticorpos, o que torna este projeto uma ideia bastante inovadora.
Como o coronavírus entra nos pulmões através da passagem nasal, o spray pode prevenir a infecção.
Os vírus adeno-associados também têm a vantagem de criar apenas uma resposta imunológica leve, de modo que seus efeitos colaterais podem ser menos graves do que os de vacinas mais avançadas, que treinam o sistema imunológico para reconhecer uma proteína-chave do coronavírus.
A Universidade da Pensilvânia e a Regeneron esperam terminar seus testes em animais em janeiro, para então buscar autorização da agência de medicamentos dos EUA para iniciar os testes em humanos.