03/12/2020 - 13:10
Um novo relatório da ONG Global Witness acusa três das maiores empresas de carne do Brasil de ter suas cadeias produtivas envolvidas em áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia.
Segundo o estudo, entre 2017 e 2019, apenas no estado do Pará, a JBS, Marfrig e Minerva compraram gado de 379 fazendas com mais de 20 mil campos de futebol de desmatamento ilegal.
“As avaliações feitas pelos auditores internacionais DNV-GL e Grant Thornton para monitorar o cumprimento dessas obrigações não foram capazes de identificar esses casos, e foram usadas pelas empresas para dar um “greenwash” [álibi ecológico, em tradução livre] em suas credenciais ambientais”, diz o documento.
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A pesquisa também mostra que essas empresas não conseguiram monitorar mais de 4 mil fazendas no Pará inseridas em suas cadeias produtivas e com um total estimado de 140 mil campos de futebol de desmatamento.
O relatório ainda afirma que a JBS e a Marfrig compraram gado de pecuaristas acusados pelo Ministério Público Federal de grilagem de terras, abusos de direitos humanos de povos indígenas e ativistas dos direitos à terra.
Do total de 379 fazendas identificadas, 327 forneceram diretamente para a JBS, 89 venderam para a Marfrig e 16 para a Minerva. O estudo também constatou que, no período analisado, essas empresas receberam R$ 14 bilhões de financiamento de bancos como Santander, Deutsche Bank, Barclays, Morgan Stanley, BNP Paribas, ING e HSBC.
“Nossa investigação demonstra claramente que um setor privado não regulamentado e com políticas voluntárias de não desmatamento não conseguiu lidar com a destruição da floresta e os abusos dos direitos humanos relacionados. Isso pode contribuir para a perda permanente da floresta amazônica”, diz Chris Moye, Investigador Sênior da Amazônia na Global Witness, em nota.
As empresas
Em nota, a JBS disse que realizou uma revisão dos casos e que 40% dos casos apontados estavam em fase de regularização ambiental junto à Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS-PA). Outros 22% dos casos, segundo a empresa, foram mal interpretados e 21% dos casos mostram discrepâncias entre o mapa de propriedades apresentado pela Global Witness e o mapa monitorado pela JBS.
Já a Marfrig informou que desativou sua única unidade no Pará, localizada na cidade de Tucumã, em março deste ano. Portanto, desde então, a companhia não compra gado de propriedades localizadas no estado.
A Minerva Foods, por sua vez, informou que realizou um levantamento detalhado de cada uma das 16 fazendas citadas e não encontrou qualquer não conformidade alegada pela ONG.