15/12/2020 - 13:06
A desigualdade racial ainda está presente na produção agropecuária brasileira. Os brancos são maioria entre os proprietários de grandes estabelecimentos rurais, enquanto os negros predominam entre os pequenos produtores. Nos estabelecimentos de mais de 10 mil hectares, oito em cada dez proprietários são brancos.
Os dados são da segunda edição do Atlas do Espaço Rural Brasileiro, publicado nesta terça-feira, 15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como parte das comemorações dos 100 anos do Censo Agropecuário.
Segundo o Censo Agro 2017, cerca de 47,9% dos estabelecimentos agropecuários do País tinham produtores declarados como brancos, proporção maior que a dos estabelecimentos com produtores pardos (42,6%), pretos (7,8%), indígenas (0,8%) e amarelos (0,6%).
Entre os pequenos produtores, aqueles que dirigem estabelecimentos com área total de até um hectare, 57,9% declararam-se pardos, 25,5% brancos, 13,6% pretos, 8,3% indígenas e 1,8% amarelos.
Por outro lado, nos estabelecimentos com mais de 500 hectares, 72,2% dos produtores proprietários são brancos, contra apenas 23,9% de pardos, 2,5% pretos, 0,4% indígenas e 0,06% amarelos.
“Ou seja, quanto maior a área dos estabelecimentos, maior a predominância dos produtores declarados brancos”, ressalta o IBGE.
Em estabelecimentos de mil a 10 mil hectares, três em cada quatro proprietários são brancos (74,7%), mais que o triplo da quantidade de proprietários pretos ou pardos (23,8%). Na última faixa estabelecida pela pesquisa, nos estabelecimentos de mais de 10 mil hectares, 79% dos produtores eram brancos contra apenas 18,9% de negros.
“Os dados refletem o processo de ocupação e apropriação do território brasileiro desde o início da invasão e da colonização portuguesa”, apontou Daiane de Paula Ciriáco, geógrafa do IBGE, em nota do órgão.
Segundo Daiane, as leis posteriores que estabeleciam o acesso à terra apenas pela compra evidenciou a exclusão dos povos indígenas e das populações escravizadas de origem africana, com reflexos ainda nos dias atuais.
O Atlas do Espaço Rural Brasileiro compila os resultados definitivos do Censo Agro 2017, mas também de outras fontes do próprio órgão, como a publicação Regiões de Influência das Cidades (Regic 2018), a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) e a Produção Agrícola Municipal (PAM), além de informações obtidas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Fundação Nacional do Índio (Funai).