17/12/2020 - 8:49
A empresa farmacêutica alemã CureVac admite que está “um pouco atrasada” em relação às concorrentes Moderna e Pfizer/BioNTech, mas seu diretor espera desenvolver uma vacina contra a covid-19 mais fácil de armazenar.
“Há uma corrida, mas uma corrida contra o vírus”, disse em uma entrevista à AFP Franz-Werner Haas, CEO da empresa de biotecnologia.
A CureVac anunciou na segunda-feira o início da terceira e última fase de testes clínicos em larga escala da vacina contra a covid-19.
Assim como os produtos desenvolvidos pela Pfizer/BioNTech e a empresa Moderna, o laboratório trabalha com a inovadora tecnologia de RNA mensageiro (RNAm).
Os primeiros resultados dos testes são aguardados para o primeiro trimestre de 2021, anunciou Haas, de 50 anos, na sede da CureVac em Tübingen, sudoeste da Alemanha.
A vacina BioNTech/Pfizer, que já foi aprovada em vários países, é utilizada desde o início de dezembro no Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.
A vacina da Moderna deve ser autorizada em breve nos Estados Unidos.
“Chegamos um pouco tarde”, admite Haas, o que segundo ele tem “vantagens e desvantagens”.
– Armazenamento mais fácil –
Uma característica da vacina CureVac é que utiliza um RNA mensageiro natural, não modificado, para desencadear uma resposta imunológica.
A consequência é que esta vacina pode permanecer estável durante ao menos três meses na temperatura da geladeira, o que torna “mais fácil” seu uso, por exemplo, em casas de repouso, ou em consultas médicas, segundo Haas.
A vacina BioNTech deve ser armazenada a -70ºC, e a vacina da Moderna, a -20ºC.
De acordo com a CureVac, seu produto também precisaria de uma dose muito menor, de apenas 12 microgramas, contra os 30 microgramas para a BioNTech e 100 microgramas para a Moderna, o que permitiria uma produção em larga escala mais rápida.
Haas considera “fantástico” que seus dois principais concorrentes tenham demonstrado que suas vacinas têm eficácia e segurança de quase 95%. Ele disse que “também podemos fazer”.
Ele destaca que, para conter a pandemia que matou mais de 1,6 milhão de pessoas desde o fim de 2019, serão necessárias vacinas diferentes para ter as quantidades suficientes.
Em março, a empresa se viu envolvida em uma polêmica pelos boatos de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exigia a exclusividade da futura vacina da CureVac para o mercado americano.
As acusações nunca foram confirmadas, mas levaram o ministro da Economia, Peter Altmaier, a declarar que “a Alemanha não está à venda”.
Até o momento, o maior pedido veio da União Europeia (UE), para 405 milhões de doses. O governo dos Estados Unidos ainda não falou oficialmente sobre uma encomenda.
A “polêmica não é a melhor recordação”, admite Haas, que recorda protestos diante da sede da empresa e pedidos para que não fosse vendida aos Estados Unidos.
– Inovações futuras –
Fundada no ano 2000, a CureVac tem o apoio do bilionário alemão Dietmar Hopp, acionista majoritário da empresa, também cofundador da gigante do software SAP e presidente do clube de futebol Hoffenheim.
O fundador da farmacêutica, Ingmar Hoerr, é um pioneiro da pesquisa do RNA mensageiro, uma tecnologia que ganhou impulso com a covid-19.
“O que está sendo construído agora (graças ao RNAm) está aqui para ficar”, disse Haas.
A CureVac também trabalha no desenvolvimento de uma vacina contra a malária com a Fundação Gates e, no início do ano, recebeu dados “muito bons” sobre uma possível vacina contra a raiva.
O CEO do Tesla Group, Elon Musk, também se associou com a CureVac para construir “microfábricas de RNAm” móveis.
Em junho, o governo alemão pagou 300 milhões de euros para adquirir uma participação de 23% no laboratório, ao qual adicionou um subsídio de 252 milhões de euros para as pesquisas sobre o novo coronavírus.