11/02/2011 - 7:00
O fundo de private equity brasileiro Tarpon Investimentos, com US$ 3 bilhões de ativos sob gestão, já apostou suas fichas nos mais variados tipos de negócios, como calçados, etanol, terras e imóveis. Agora, o Tarpon decidiu aplicar seus recursos em vento.
Não, ninguém na companhia começou a tomar água fervente ou a rasgar dinheiro. É que a Omega Energia, empresa criada pelo fundo em 2008 para atuar na área de energia renovável com foco em Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), usinas com capacidade de gerar até 30 megawatts (MW), comprou o portfólio de projetos da Ecopart para a geração de energia eólica no final do ano passado.
Antonio Bastos, Presidente da Omega Energia
Com isso, a Omega passa a atuar num mercado que deve girar ? literalmente ? com seus cata-ventos R$ 800 milhões no País, em 2011, de acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), entidade que representa as empresas do setor.
Em 2014, a estimativa é que chegue a R$ 2,4 bilhões. ?Houve uma evolução da competitividade da energia eólica nos últimos cinco anos?, diz Antonio Augusto Bastos, presidente da Omega Energia. ?A tecnologia dos equipamentos melhorou e houve redução de custo, o que a torna cada vez mais atraente do ponto de vista do investidor privado.?
A Omega, que recebeu um novo aporte de R$ 350 milhões do fundo de investimento americano Warburg Pincus e da própria Tarpon, no ano passado, vai iniciar a construção de seus dois primeiros parques eólicos já em 2011.
Eles estão localizados nos municípios de Parnaíba, no Piauí, e de Touros, no Rio Grande do Norte. Juntas, as duas usinas terão capacidade para gerar 200 MW, energia suficiente para iluminar uma cidade com 70 mil habitantes. Ambas devem começar a operar no final de 2012.
Segundo a Abeelólica, o Brasil deverá atingir uma potência instalada de 1,4 mil MW em energia eólica neste ano. Em 2013, chegará a 5,24 mil MW, quase cinco vezes a potência atual. Mesmo assim, esse valor representará apenas 4,3% da matriz energética brasileira ? hoje, é de 1%.
Atualmente, a Omega tem uma carteira de projetos de 4.500 MW, entre fazendas eólicas e hidrelétricas. Desse total, cerca de 600 MW devem entrar em operação até 2015, com investimentos estimados em R$ 2 bilhões.
Naquele ano, a companhia estima faturar R$ 500 milhões. Hoje, apenas uma central hidrelétrica da Omega, localizada em Ipanema (MG), com capacidade de 20 MW, está em operação.
Um dos fatores que estão impulsionando o setor de geração de energia eólica no Brasil sãos os leilões de compra de energia renovável do governo federal. O mercado estima que pelo menos dois mil MW da energia gerada pelos ventos sejam contratados por ano, de acordo com Ricardo Simões, presidente da Abeeólica.
Além de garantir a venda de sua produção, os vencedores ganharam isenção fiscal para a compra de equipamentos, cuja maior parte vem de fora do País. A alíquota de turbinas importadas, por exemplo, chega a 14%.
A demanda dos investidores privados para construir usinas também ajuda a atrair aportes dos fabricantes de equipamentos, como a alemã Wobben, a francesa Alstom e a argentina Impsa. ?Governos de Estados como a Bahia e Pernambuco estão negociando menor cobrança de impostos para incentivar a instalação de fábricas de equipamentos?, diz João Carlos Mello, presidente da consultoria Andrade&Canellas.
Segundo ele, todos estão de olho no potencial brasileiro de geração de energia eólica. Um estudo antigo do Ministério de Minas e Energia ? e considerado defasado pelo setor ? aponta que o potencial de produção é de 143 mil MW, duas vezes a potência gerada pelas usinas hidrelétricas em 2009.
O problema é que essa pesquisa, feita em 2001, considerava a instalação de torres com altura de até 35 metros. Hoje, elas triplicaram de tamanho. ?O mercado estima uma capacidade de 300 mil MW de energia eólica no Brasil?, diz Simões, da Abeeólica. Esse potencial é suficiente para iluminar o País inteiro.