Aldeias inteiras foram arrasadas, e pelo menos duas pessoas morreram em Fiji, incluindo um bebê, durante a passagem do superciclone Yasa pelo arquipélago, onde equipes de resgate tentavam chegar às áreas mais afetadas, nesta sexta-feira (18), para avaliar os danos.

Este ciclone de categoria 5, a mais alta, atingiu Vanua Levu, a segunda maior ilha de Fiji, na noite de quinta-feira (17). Seu primeiro-ministro voltou a denunciar a ligação entre o aquecimento global e os ciclones devastadores.

Os serviços meteorológicos da ilha anunciaram rajadas de 345 km/h.

A tempestade causou inundações, deslizamentos de terra e cortes de energia antes de se afastar do arquipélago pelo sudeste nesta sexta-feira e se transformar em um ciclone de categoria 3.

Zalim Hussein, morador da pequena cidade de Savusavu, na ilha de Vanua Levu, contou que temeu por sua vida quando se refugiou em sua casa no escuro, enquanto o vento destruía as casas ao redor.

“Ouvi os telhados das casas voarem, as árvores caírem, e os galhos se quebrarem, enquanto as ondas gigantes batiam na costa”, disse ele à AFP.

“Estávamos todos com medo de morrer, e cheguei a pensar, por um momento, que perderíamos nossa casa. Em meus 65 anos, nunca vi nada parecido”, completou.

– ‘Urgência climática’ –

O primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama, confirmou a morte de duas pessoas: um homem de 45 anos e um bebê de três meses.

“Estamos preocupados que o número de mortos possa aumentar”, disse ele.

Há anos defensor de uma ação internacional mais enérgica contra a mudança climática, Bainimarama atribuiu a força do tufão Yasa ao aquecimento global.

“Isso não é normal. Há uma emergência climática”, tuitou.

À medida que a superfície dos oceanos se aquece, os ciclones se tornam mais potentes, de acordo com os cientistas, que preveem um aumento na proporção dos ciclones das categorias 4 e 5.

Na zona rural de Fiji, a maioria das casas é feita de madeira e chapas. A delegada em Fiji da ONG Save the Children, Shairana Ali, afirmou que essas construções não são feitas para resistir aos fortes ventos de Yasa.

“Estão nos dizendo que, em algumas cidades, todas as casas foram destruídas”, disse ela à AFP.

“A maioria dos habitantes vive da agricultura, mas as plantações foram destruídas”, relatou.

– “Destruições significativas” –

A Cruz Vermelha mobiliza equipes de resgate para responder aos “danos consideráveis” na região de Bua.

Várias ONGs armazenaram ajuda de emergência em Fiji para antecipar a devastação da temporada de ciclones, que dura até maio.

O Escritório Nacional de Gestão de Catástrofes de Fiji afirma que 24.500 pessoas buscaram abrigo em 500 centros de acolhida em todo país.

Desde o início da semana, as autoridades pedem à população que aumente a cautela e se refugie em construções mais sólidas, ou em áreas mais altas, se morarem perto da costa.

Na quinta-feira, foi declarado estado de catástrofe natural, o que permite às autoridades determinar toques de recolher, ou restrições de deslocamentos.

Yasa é o terceiro ciclone de categoria 5 a atingir Fiji desde 2016, ano em que o ciclone Winston matou 44 pessoas no arquipélago. O último, Harold, em abril, espalhou o caos em Fiji, assim como nas Ilhas Salomão, Vanuatu e Tonga.

“É terrível ver outro grande ciclone tão rápido depois do Harold e a poucos dias do Natal”, lamentou a diretora da Cruz Vermelha do Pacífico, Kathryn Clarkson, instalada em Suva.

“Isso se somará às dificuldades que a população local já está enfrentando, devido à covid-19”, afirmou.

A relativa boa notícia é que a zona mais atingida pela tempestade foi a província de Bau, com uma população menor. Os danos teriam sido muito mais graves, se o ciclone tivesse atingido diretamente as grandes cidades, que acabaram ficando relativamente a salvo, com a exceção das inundações em Rakiraki, em Viti Levu, a principal ilha do arquipélago.