18/12/2020 - 12:02
O diretor para as Américas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner, disse à AFP que a pandemia de coronavírus que atingiu a América Latina pode – com as medidas corretas – ser uma oportunidade de mudanças positivas em uma região que precisa, imperativamente melhorar em matéria de igualdade.
Werner destacou que, em meio a uma difícil situação econômica com forte diminuição do comércio, os países latino-americanos foram capazes de evitar crises financeiras e fiscais.
Pergunta: Existem soluções que sejam aplicáveis de forma generalizada pelos países da América Latina que permitam pensar em uma recuperação e evitar uma “década perdida”?
Resposta: Acredito que os principais ingredientes de sucesso para evitar uma “década perdida” são, primeiro, que haja medidas para manter a estabilidade macroeconômica.
Segundo, os países da América Latina tomaram medidas excepcionais que ajudaram a evitar uma crise maior. Este apoio (à economia) tem que continuar para cobrir a brecha até que a pandemia esteja sob controle.
E o terceiro são as medidas para retomar um crescimento potencial e inclusivo. Esta agenda não é nova para a região, mas se tornou mais urgente.
P: Alguns países se encontram prestes a implementar reformas estruturais importantes: em quais aspectos da economia regional os governos devem se concentrar?
R: Creio que os temas de igualdade social passaram para um primeiro plano, inclusive antes da pandemia, mesmo em países com instituições relativamente sólidas como Chile, e agora são uma necessidade absolutamente urgente que precisa que ser resolvida para que a região avance com outras prioridades.
A América Latina continua sendo a região mais desigual do mundo, apesar do progresso na redução da desigualdade nas últimas décadas.
A pandemia exacerbou a desigualdade de renda e das oportunidades por seu impacto desproporcional nos trabalhadores pouco qualificados, nas mulheres, juventude e aqueles que já estavam vivendo às margens da sociedade.
A pobreza também está aumentando. As análises preliminares sugerem que, sem políticas de ajuda, Argentina, Brasil, Colômbia e México teriam registrado um aumento da pobreza de 30 milhões de pessoas.
No entanto, as decisivas ações tomadas pelos responsáveis pelas políticas reduziram este número para cerca da metade.
P: Em longo prazo, como os governos da América Latina podem combater a desigualdade?
R: Antes de mais nada, [devem] investir nas pessoas para fazer com que a economia seja mais resiliente. E isso implica acesso à saúde – incluindo uma distribuição rápida e justa da vacina -, à educação, à formação e às tecnologias digitais.
A segunda coisa é investir na inclusão financeira. É vital garantir o acesso às finanças, especialmente para as mulheres. E o terceiro é uma reforma fiscal para fazer um sistema (tributário) mais progressivo e fortalecer o cumprimento fiscal, com uma rede de segurança social que precisa ser expandida de forma seletiva.
P: Está otimista sobre os anos “pós-pandemia”?
R: A crise pode se transformar no gatilho de mudanças que antes eram difíceis de implementar.
À medida em que nos recuperarmos da crise da covid-19, os governos poderão tomar medidas para que esta recuperação beneficie as gerações atuais e futuras, ao torná-la mais inclusiva, sustentável e amigável com o meio ambiente.
Este último fator é particularmente importante, se quisermos evitar um custo humano e econômico potencialmente catastrófico de um aumento dos níveis do mar, um aumento das temperaturas, uma mudança dos padrões das chuvas e grandes perdas de produção.
Estou otimista, porque todos os países da região levam esta questão muito a sério.