29/12/2020 - 6:28
Em meio aos vários estabelecimentos comerciais da cidade de Lübeck considerados não essenciais e fechados até meados de janeiro para frear a onda de covid-19 que afeta o país, alguns se destacam por suas tristes faixas de “fechado em definitivo”.
A simpática cidade do norte da Alemanha, que integra a lista de patrimônio da Humanidade da Unesco pelas fachadas de tijolo vermelho e os luxuosos edifícios de estilo ‘art nouveau’ de seu centro histórico, não escapou do fenômeno de esvaziamento que afeta há vários anos os centros das cidades da Europa. Algo que foi acelerado pela pandemia de covid-19.
Em Lübeck, uma cidade de 220.000 habitantes e visitada por 18 milhões de turistas em 2019, 20% dos espaços comerciais estão vazios. E não parece existir uma tendência de mudança.
Na principal rua comercial, Olivia Kempke aponta uma antiga loja de roupas, em falência. “Alguns já não estavam bem antes da crise de saúde e a queda do movimento atual os derrubou”.
Kempke, que dirige a Lübeck Management, uma associação que promove o desenvolvimento urbano local, critica a hipertrofia dos grandes centros comerciais da periferia, “verdadeiros ímãs de consumidores”, e os aluguéis, cada vez mais elevados, “que deixam os comerciantes presos pelo pescoço”.
– Compras on-line –
Outra tendência que está em alta e que também afeta a situação é a das compras virtuais, que devem aumentar em um terço no período novembro-dezembro na comparação com 2019, segundo a Associação Alemã do Comércio (HDE).
Esta última teme o fechamento de 50.000 estabelecimentos comerciais por causa da covid-19 em todo o país.
O fechamento parcial das lojas em novembro e dezembro, por causa do coronavírus, custará aos varejistas alemães dos centros das cidades até 16,9 bilhões de euros (20,6 bilhões de dólares), segundo o instituto de pesquisas econômicas IW.
O número de pessoas caiu à metade nas cidades alemãs em dezembro, segundo a instituição.
Números que devem ser ainda mais graves após o fechamento de todas as lojas “não essenciais” decretado em meados de dezembro, por um mês no mínimo.
O ministro da Economia, Peter Altamaier, afirmou em novembro que fazer compras em pequenos comércios era comparável a uma “tarefa nacional, inclusive um ato patriótico”. Uma mensagem que perdeu o valor rapidamente com o aumento das restrições.
Além das ajudas de emergência, o governo alemão cogita instaurar uma taxa para o comércio on-line, cuja arrecadação seria destinada aos comerciantes dos centros urbanos.
O Executivo também reservará 25 milhões de euros adicionais em 2021 para apoiar o comércio das áreas históricas, enquanto a HDE reclama “fundos de emergência urbana” de quase 1,5 bilhão de euros (1,8 bilhão de dólares) por ano.
“Se isto não acontecer, não reconheceremos nossos municípios depois da pandemia”, advertiu o presidente da HDE, Gerd Landsberg.
A ajuda governamental de emergência será adicionada a um programa do ministério da Construção criado em 2002 e dotado de 790 milhões de euros (966 milhões de dólares) por ano para apoiar as cidades.
Hanau, no estado de Hesse (centro), foi uma das primeiras localidades beneficiadas pelo programa. Após sete anos de obras, a cidade mudou completamente, com uma área histórica mais verde e adaptada às pessoas com mobilidade reduzida.
A intervenção também gerou um grande centro comercial com lojas independentes, restaurantes, um cinema e uma nova praça. O projeto é considerado um sucesso por Frank Schwartze, professor na Universidade Técnica de Lübeck e especialistas em desenvolvimento urbano.
Ele afirma que os recursos permitirão aos “centros das cidades adaptar-se aos novos hábitos, como locais devida e não apenas de consumo”.
“O antigo comércio varejista não voltará”, mas dará espaço a “locais de passeio e socialização”. Ou seja, menos espaço para veículos e mais espaço para os pedestres.
“Estamos observando um retorno das pessoas e uma redução de 60% do tráfego automobilístico. Os cidadãos ganharam qualidade de vida”, afirma Jan Lindenau, prefeito de Lübeck.