05/01/2021 - 8:08
Mais de um ano depois do surgimento do novo coronavírus, uma equipe da Organização Mundial da Saúde (OMS) deve desembarcar na China este mês para investigar a origem da pandemia.
A visita dos dez especialistas da OMS é uma questão muito delicada para o regime chinês, que deseja descartar qualquer responsabilidade na pandemia que provocou mais de 1,8 milhão de mortes no mundo.
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E tanto é assim que a visita tem ares de missão secreta. As datas não foram divulgadas, e a OMS se limitou a afirmar que acontecerá “na primeira semana de janeiro”.
Embora Pequim tenha conseguido praticamente erradicar a doença em seu território, não conseguiu evitar as acusações recorrentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de ter propagado o “vírus chinês” por todo mundo, ou mesmo de ter permitido que escapasse de um laboratório de virologia de Wuhan, a cidade do centro do país onde a covid-19 surgiu no fim de 2019.
Sinal do nervosismo, as autoridades comunistas condenaram na semana passada a quatro anos de prisão a jornalista cidadã Zhang Zhan, que fez uma cobertura da quarentena em Wuhan.
As autoridades também expressaram suas dúvidas sobre a origem chinesa do vírus, apesar de inicialmente terem apontado um mercado de Wuhan onde eram vendidos animais vivos.
“Mais e mais investigações sugerem que a epidemia pode ter aparecido em muitas partes do mundo”, disse o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, no fim de semana.
– Especialistas em quarentena –
Devido à pandemia, os especialistas internacionais terão que passar por uma quarentena de duas semanas ao chegar a Pequim. Depois, terão um prazo de três a quatro semanas para investigar a origem da doença.
O grupo deve conseguir viajar a Wuhan por volta de 20 de janeiro, praticamente um ano depois do início da quarentena nesta metrópole de 11 milhões de habitantes, em 23 de janeiro de 2020.
O dia 20 de janeiro também é a data em que Donald Trump deve abandonar a Casa Branca. Alguns analistas especulam que Pequim pode ter aguardado a data para o início real da investigação para não dar a impressão de ceder às exigências do presidente republicano.
Este último pediu reiteradamente uma investigação internacional sobre a origem do vírus, uma solicitação apoiada pela Austrália, objeto de sanções comerciais por parte da China nos últimos meses.
A demora da China em aceitar uma investigação independente significa que os primeiros vestígios da infecção serão difíceis de encontrar.
“Não sou otimista. Eles viajarão depois da batalha”, adverte o especialista em doenças infecciosas Gregory Gray, da Universidade Duke, nos Estados Unidos.
“Será incrivelmente difícil encontrar a origem do vírus”, afirma Ilona Kickbusch, do Instituto de Altos Estudos Internacionais e Desenvolvimento de Genebra.
Os cientistas acreditam que o hospedeiro original do vírus foi um morcego, mas se desconhece o animal intermediário que permitiu a contaminação humana.
A imprensa chinesa insiste cada vez mais na hipótese de que o vírus foi importado, por meio de alimentos congelados, uma tese rejeitada pela OMS.
– Não há culpados –
Para a organização internacional, acusada pela administração Trump de tendências pró-China, não há dúvida de que seus especialistas terão liberdade para investigar, embora Pequim não tenha confirmado até o momento que Wuhan está efetivamente no programa da visita.
“A equipe viajará a Wuhan. Este é o objetivo da missão”, afirmou em dezembro o diretor de emergências sanitárias da OMS, Michael Ryan.
“Trabalharemos com nossos colegas chineses. Não serão supervisionados por funcionários chineses”, disse.
A missão é integrada por dez cientistas da Dinamarca, Reino Unido, Holanda, Austrália, Rússia, Vietnã, Alemanha, Estados Unidos, Catar e Japão, reconhecidos em suas diferentes áreas de especialização.
“O objetivo não é designar um país ou uma autoridade culpada”, disse à AFP um dos membros da equipe, Fabian Leendertz, do Instituto Robert Koch da Alemanha.
“A meta é entender o que aconteceu para evitar que volte a ocorrer”, completou.
Se as autoridades obstruíssem a investigação, “isso teria um impacto negativo para a reputação política e científica da China”, advertiu Gray.