O presidente dos EUA, Donald Trump, enfrenta um dia adverso na quarta-feira (6): o Congresso se prepara para certificar a vitória de Joe Biden para a Casa Branca, e os democratas estão a caminho de assumir o controle do Senado, após uma surpreendente eleição na Geórgia.

Em um comício em Washington, D.C., nesta quarta, o presidente Trump disse a seus seguidores que “nunca” aceitará a derrota eleitoral e convocou seu vice-presidente, Mike Pence, a não certificar a vitória de Biden.

“Não vamos desistir nunca. Nunca vamos aceitar”, declarou Trump à multidão. “Vamos parar o roubo”, acrescentou.

Milhares de trumpistas invadiram a capital do país para protestar. Com as tensões políticas em alta, o centro de Washington mostrou uma forte presença policial e muitos empresários, temendo o confronto, fecharam portas e janelas com tijolos.

“Eles roubaram a eleição, tenho certeza absoluta”, disse Katherine Caldwell, de 61, procedente de Oregon, enquanto agitava uma bandeira vermelha com a inscrição “Trump é meu presidente”.

No segundo turno das eleições para o Senado da Geórgia, o democrata Raphael Warnock derrotou a senadora republicana Kelly Loeffler e fez história ao se tornar o primeiro senador negro eleito no estado do sul.

“O que aconteceu ontem (terça-feira) à noite é extraordinário”, disse à CNN o pastor de 51 anos de uma igreja em Atlanta onde Martin Luther King oficiou.

O outro democrata na disputa na Geórgia, Jon Ossoff, também está prestes a derrotar o senador republicano David Perdue.

Na manhã de quarta-feira, ele reivindicou sua vitória: “Geórgia, obrigado pela confiança que você depositou em mim”, disse em um breve comunicado.

As grandes redes de TV americanas ainda não o declararam vencedor. Se sua vitória for confirmada, Ossoff se tornará, aos 33, o mais jovem senador democrata desde Joe Biden (em 1973).

Com Warnock e Ossoff no Senado, os democratas teriam 50 cadeiras na Câmara Alta, o mesmo número dos republicanos. De acordo com a Constituição, a futura vice-presidente Kamala Harris teria o poder de decidir os votos e, portanto, pender a balança para o lado democrata.

Biden tomará posse em 20 de janeiro, e uma maioria no Senado daria aos democratas o controle das duas casas do Congresso, permitindo-lhe levar sua agenda legislativa adiante.

“Mitch McConnell, líder da minoria no Senado”, brincou Hillary Clinton em um tuíte, referindo-se ao fato de o poderoso republicano estar perto de perder o prestigioso posto de líder da maioria.

– Pence sob pressão –

Estimulados pela vitória de Biden na Geórgia na eleição de 3 de novembro, a primeira do partido no estado desde 1992, os democratas conseguiram mobilizar seus eleitores no reduto conservador, especialmente os afro-americanos, cruciais para a vitória.

Para mostrar o que estava em jogo, Trump foi à Geórgia para atrair eleitores. Essas eleições podem ser “sua última chance de salvar a América como nós a amamos”, ele afirmou em um comício em Dalton. Em vão.

O Congresso se reúne nesta quarta-feira para registrar formalmente os votos do Colégio Eleitoral. O resultado dessa obrigação constitucional é inquestionável: Biden se tornará presidente.

A empreitada de Trump dá a este dia, porém, um tom especial.

Enquanto alguns pesos pesados republicanos acabaram admitindo a vitória do democrata, dezenas de outros legisladores prometeram expressar suas objeções na quarta-feira e ecoar as alegações de fraude até mesmo dentro do próprio Capitólio.

Trump já havia pressionado seu vice-presidente, Mike Pence, que terá a função formal de declarar Biden o vencedor.

“O vice-presidente tem o poder de rejeitar os eleitores escolhidos fraudulentamente”, tuitou Trump, de maneira equivocada.

Pence se limitará a presidir a sessão conjunta da Câmara dos Representantes e do Senado que formalizará os 306 votos eleitorais a favor de Biden contra os 232 de Trump.

De acordo com a Constituição, sua função é apenas “abrir” as certidões enviadas por cada um dos 50 estados. Apenas os legisladores podem contestar os resultados.

Ainda assim, a ordem presidencial coloca Pence em uma posição delicada, após três anos e 11 meses de serviço leal.

Biden se absteve amplamente de comentar essa pressão sem precedentes sobre o que costuma ser uma formalidade.

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