14/01/2021 - 21:42
O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, revelará nesta quinta-feira seus planos para lutar contra a Covid-19 e injetar 1,9 trilhão de dólares na economia, mas a agenda de seus 100 primeiros dias de governo será ofuscada pelo julgamento político do atual presidente, Donald Trump.
Um dia após Trump ser acusado na Câmara dos Representantes, Biden espera aproveitar seu discurso, pronunciado no horário nobre, para dar esperança aos americanos. Com os companheiros democratas no controle de ambas as câmaras do Congresso, o futuro presidente terá a chance de aprovar o que seria o terceiro pacote de ajuda em massa para uma pandemia.
O democrata tomará posse em 20 de janeiro, numa Washington transformada em um campo entrincheirado desde o ataque ao Capitólio na semana passada por partidários do presidente republicano. Agora é urgente que Joe Biden volte ao seu programa, depois de uma semana que abalou a maior potência mundial.
Ele deve apresentar uma série de “projetos legislativos para financiar vacinas e prestar ajuda imediata e direta às famílias”, em face da pandemia e da crise econômica, segundo sua equipe de transição. Biden deve aproveitar a oportunidade para lançar “um apelo” ao seu campo democrata e aos seus adversários republicanos para “adotar suas propostas rapidamente no Congresso”.
A proposta do democrata, chamada Plano de Resgate Americano, incluirá uma série de medidas destinadas a revitalizar a maior economia do mundo, informaram membros do alto escalão do próximo governo. A iniciativa inclui o aumento do salário mínimo em nível federal para 15 dólares a hora, ajuda aos governos estaduais e municipais, a reabertura de escolas de forma segura, a implementação de uma campanha de imunização em massa contra a Covid-19 e o aumento do pacote de estímulo que o Congresso aprovou no mês passado.
A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer, disseram que começariam a trabalhar para garantir o êxito do plano. “Colocaremos mãos à obra para converter a visão do presidente eleito em uma lei que seja aprovada por ambas as câmaras e promulgada”, assinalaram em declaração conjunta.
– Promessa de ‘reconciliação’ –
Nesta quarta-feira à noite, após a votação que rendeu a Donald Trump o título inglório de primeiro presidente americano alvo de um segundo “impeachment”, Joe Biden pediu ao Senado que conciliasse “o processo de impeachment” e o avanço de “assuntos urgentes da nação”.
“Esta nação permanece sob a ameaça de um vírus mortal e uma economia vacilante”, alertou, enquanto o país continua a bater recordes de mortes diárias por covid-19 e pode superar até sua posse os 400.000 mortos.
O futuro presidente também deixou transparecer sua preocupação em ver um Congresso monopolizado pelo julgamento de Donald Trump por “incitamento à insurgência”, relegando para segundo plano as audiências de confirmação de membros de seu governo, essenciais para permitir que passe rapidamente para a ação.
E o clima de confronto partidário que poderia acompanhar os debates também ameaça a promessa de “reconciliação” e “união” do candidato Biden.
Porque agora que o “impeachment” foi votado na Câmara de Representantes pelos democratas, mas também, notadamente, por dez republicanos, a continuação do procedimento permanece muito incerta.
Nancy Pelosi, ainda não disse quando pretende encaminhar a acusação à Câmara Alta, que é constitucionalmente responsável pelo julgamento. E o Senado, que passará em 20 de janeiro para o controle democrata, não se reunirá até o dia anterior. A data do julgamento não foi definida.
– Campo republicano rachado –
Mesmo que o acusado seja posteriormente um ex-presidente e que, portanto, a aposta de destituí-lo do poder tenha desaparecido, tal julgamento corre o risco de capturar toda a atenção da mídia.
Por um lado, porque “se o presidente for considerado culpado, haverá outra votação para proibi-lo de ser candidatar novamente”, advertiu na quarta-feira Chuck Schumer, que se prepara para assumir as rédeas da maioria democrata no Senado.
Por outro lado, porque ao contrário do julgamento de impeachment há um ano no caso ucraniano, quando os republicanos se uniram em apoio ao seu presidente, desta vez a unidade da direita já está rompida – muitos de seus representantes viraram as costas ao ex-empresário desde a violência no Capitólio, que deixou cinco mortos. A tal ponto que uma condenação de Donald Trump, embora longe de ser garantida, não parece mais impossível.
O influente líder dos senadores republicanos, Mitch McConnell, tornou público que não descarta votar a favor da condenação. O estrategista sabe que um sinal de sua parte nessa direção poderia ajudar o partido Republicano a virar definitivamente a página de Trump.
O presidente cessante, que obstinadamente se recusava até o caos da semana passada reconhecer que Joe Biden ocuparia a Casa Branca em 20 de janeiro, sonhava em continuar a ter peso na formação, ou mesmo concorrer à reeleição em 2024.
Cada vez mais isolado enquanto se prepara para se retirar em sua propriedade em Mar-a-Lago, Flórida, ele tem tentado nos últimos dias tranquilizar pedindo calma e se distanciando de seus apoiadores na origem da violência de 6 de janeiro.
Principalmente porque os serviços de segurança estão a ponto de enfrentar a ameaça de novas manifestações em Washington e outras cidades do país, neste final de semana e durante a tomada de posse do democrata, nos degraus de um Capitólio reforçado em termos de segurança.
Os senadores terão que fazer malabarismo para julgar um ex-presidente republicano enquanto cooperam com uma agenda enviada por um presidente democrata. Biden tenta persuadir a câmara alta a administrar os dois temas de forma organizada e eficaz, ocupando-se “metade do dia do julgamento político e na outra metade, de que minha gente seja nomeada e confirmada no Senado, além de tratar do pacote”.