22/01/2021 - 18:31
A Flórida impôs a exigência de comprovação de residência para vacinar contra a covid-19, em um esforço para conter o chamado “turismo de vacinas”.
A medida, no entanto, fará com que os imigrantes sem documentos não sejam imunizados, assim como os sem-teto e de baixa renda, denunciam os líderes comunitários.
“É muito lamentável que a consequência deste novo regulamento acabe excluindo algumas das pessoas mais vulneráveis em nossa comunidade, que são aqueles que não têm documentos”, disse à AFP nesta sexta-feira (21) Lily Ostrer, médica residente do Hospital Jackson Memorial em Miami e membro do sindicato médico CIR / SEIU.
A Flórida, um estado marcado cultural e economicamente pela imigração – um em cada cinco habitantes nasceu no exterior – limitou suas vacinas a residentes permanentes e temporários, estes últimos são chamados “pássaros da neve” (pássaros migratórios) por passarem apenas o inverno nesta região do sudeste americano.
A decisão foi tomada depois de relatos de turistas dos Estados Unidos ou do exterior que viajaram ao estado – que atualmente vacina todos os maiores de 65 anos – apenas para se imunizarem, em um novo fenômeno denominado “turismo de vacinas”.
Embora a Flórida tenha administrado mais de 1,3 milhão de doses, o processo é lento e às vezes caótico. Portanto, a advertência assinada pelo chefe da Saúde da Flórida, Scott Rivkees, indica que, devido à escassez de vacinas, os candidatos devem apresentar comprovante de residência, que pode ser uma carteira de motorista, uma conta de algum serviço público ou uma carta de um banco.
Mas os imigrantes sem documentos não podem ter carteira de motorista da Flórida e, na ausência de documentação, geralmente têm serviços públicos em nome de terceiros. Além deles, cidadãos sem-teto ou extremamente pobres também podem ser excluídos da vacinação.
Thomas Kennedy, coordenador da organização de direitos dos imigrantes United We Dream, na Flórida, disse que a nova medida “cria uma barreira cruel e deliberada para muitos moradores da Flórida, incluindo imigrantes sem documentos, mas também para muitas pessoas sem acesso a uma casa”.
Muitas dessas pessoas também estão em alto risco de contrair o coronavírus porque são trabalhadores essenciais ou moram com várias pessoas em pequenas casas.
Além disso, os sem documentos não têm acesso à saúde pública.
“O acesso à vacina deve estar disponível para todos, independentemente de onde vivam ou de seu status de imigração”, disse Kennedy à AFP.
Ostrer, a médica e sindicalista, reforçou que, além disso, essas pessoas são desproporcionalmente mais afetadas pela pandemia.
“Para que as vacinas sejam eficazes, precisamos vacinar o maior número possível de pessoas”, disse ela. “Qualquer política que exclua pessoas da vacinação não é uma boa política de saúde pública”.