27/01/2021 - 13:44
A farmacêutica americana Pfizer, que desenvolveu junto com a alemã BioNtech uma das duas primeiras vacinas contra a covid-19 autorizadas na Europa, considera agora que cada frasco contém seis doses, quando antes eram cinco, uma decisão polêmica.
– Quantas doses?
Até recentemente, cada frasco da vacina “Comirnaty” da Pfizer/BioNtech continha oficialmente cinco doses. A vacina descongelada deve ser diluída em 1,8 ml de solução injetável de cloreto de sódio.
“Após a diluição, o frasco contém 2,25 ml”, afirmam os laboratórios. Portanto, a uma taxa de 0,3 ml por dose, teoricamente seria possível extrair 7 doses.
A equipe médica percebeu que poderia – sob condições específicas – obter ao menos uma sexta dose em cada frasco.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) atualizou a rotulagem europeia em 8 de janeiro para indicar que os frascos contêm seis doses.
Esta autorização é válida para os Estados-Membros da UE. A FDA, a agência de drogas dos EUA, também aprovou o uso desta sexta dose, anunciou a Pfizer.
A EMA disse, porém, que a sexta dose “depende da disponibilidade de seringas específicas”.
– O que diz a Pfizer? –
“Nossa meta inicial de 1,3 bilhão de doses de vacina foi revisada para atingir 2 bilhões de doses até o final de 2021”, afirma agora a farmacêutica.
Essas previsões são baseadas na atualização da rotulagem – de cinco a seis doses por frasco -, mas também na “melhoria contínua dos processos de produção e na expansão de nossas instalações atuais”.
O grupo salienta que cumprirá seus compromissos de entrega “de acordo com as encomendas efetuadas” e que “estas foram sempre baseadas num número total de doses e não em frascos”.
Especificamente, isso significa que a Pfizer/BioNtech entregará menos frascos para seus clientes pelo mesmo preço.
– A sexta dose não está garantida –
No entanto, obter seis doses, e não cinco, nem sempre é garantido porque necessita de uma seringa com um “espaço morto” muito pequeno (menos de 35 microlitros).
“Espaço morto” é o volume restante na seringa quando o êmbolo está totalmente pressionado. O ideal é usar uma seringa em que a agulha não seja desmontável.
No entanto, o pessoal de saúde não está equipado com este tipo de seringa.
O grupo americano Becton Dickinson, maior produtor mundial de seringas, indicou que se trata de produtos especializados, cuja demanda “tradicionalmente é mínima”.
Em mensagem enviada à AFP, um porta-voz da empresa, Troy Kirkpatrick, explicou que “esses produtos têm capacidade de produção limitada e levaria tempo” para aumentá-la.
“A sexta dose requer equipamento adequado para extraí-la sistematicamente. Nem todos os centros receberam esse tipo de agulhas e seringas, e é extremamente difícil para eles realizarem esta sexta dose!”, ressalta Clarisse Audigier Valette, pneumooncologista e chefe unidade no Centro Hospitalar de Toulon (sul da França) da covid-19.
Nessas condições, se a Pfizer fornecer menos frascos do que o planejado originalmente, “vacinaremos menos pessoas do que o esperado”, explicou o coletivo médico francês Du Côté de la Science.
– Governos em espera –
Na Bélgica, a decisão da Pfizer causou polêmica. No meio de janeiro, os centros de saúde que esperavam acelerar a taxa de vacinação, graças a esta sexta dose, foram privadas do número de frascos inicialmente prometidos, informou um funcionário do local à AFP.
A autoridade sueca de saúde pública pediu esclarecimentos, mas disse que a Suécia ainda não havia congelado seus pagamentos à Pfizer, conforme sugerido por um jornal sueco.
“Esperamos obter esclarecimentos da Comissão Europeia antes de pagar [Pfizer/Biotech]. Do contrário, teremos que falar com o laboratório”, afirmou Anders Tegnell, da Agência Sueca de Saúde Pública.
Ele também indicou que o prazo de pagamento não expirou por “algumas semanas”.
Na França, o Ministério da Saúde garante que fez pedidos “de suprimentos para dispor de novos tipos de seringas” e prepara arquivos para familiarizar os profissionais de saúde com “o gesto técnico bastante particular” que é necessário.
Por parte da Comissão Europeia, um porta-voz responsável pelas questões de saúde disse que a comissão “lançou um procedimento de contratação pública comum” e “fechou acordos importantes” que “já permitem aos Estados-Membros adquirir o equipamento necessário” de seringas e agulhas adaptadas.
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