30/01/2021 - 7:05
A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado na Lava Jato, conseguiu acesso a novas mensagens obtidas na Operação Spoofing – investigação que mirou um grupo de hackers que invadiu celulares de autoridades como o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. O conteúdo das conversas foi revelado pela revista Veja.
Em dezembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski mandou a Justiça do Distrito Federal compartilhar com Lula as mensagens da Spoofing. O petista pretende usá-las para reforçar a tese de que Moro foi parcial ao condená-lo a nove anos e meio de prisão na ação do tríplex do Guarujá.
Em uma das conversas, em 16 de fevereiro de 2016, o então juiz Moro pergunta se os procuradores têm uma “denúncia sólida o suficiente”. Ex-coordenador da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol responde que acredita que o material está “suficientemente forte”. “Na parte do crime antecedente, colocaremos que o esquema Petrobrás era um esquema partidário de compra de apoio parlamentar, como no mensalão, mas mediante indicações políticas para arrecadar propina para enriquecimento ilícito e financiamento de campanhas”, diz.
Em outra mensagem, de 6 de setembro de 2016, Deltan pede que, ao tomar o depoimento do empreiteiro Leo Pinheiro, ex-executivo da OAS, Moro “impeça” relatos sobre “fatos alheios” ao objeto do processo. “Talvez seja o caso de impedir Leo Pinheiro de depor sobre fatos alheios ao seu caso. Estamos suspeitando de que ele poderá querer forçar uma colaboração sem acordo, ainda que fajuta, e buscar diminuição da pena na cadeia recursal”, escreve. Moro responde: “Ah sim, só sobre o objeto da acusação”.
Em 18 de outubro de 2016, um dia antes da prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), Deltan procura Moro para combinar uma conversa sobre “apreensão dos celulares”. Na mesma conversa, passa informações sobre uma reunião com suíços e americanos para “negociar percentuais da divisão do dinheiro”. “Estamos em prévia com os suíços que nos ajudarão a dar menos para os americanos”, afirma.
Julgamento
A defesa de Lula pediu ao ministro do STF Gilmar Mendes, presidente da Segunda Turma, “prioridade” no julgamento sobre a suspeição de Moro. Em dezembro de 2018, Gilmar pediu vista, depois que dois ministros já tinham votado contra as pretensões do petista. O relator da Lava Jato, Edson Fachin, e Cármen Lúcia rejeitaram o habeas corpus. Faltam os votos de Gilmar, Lewandowski e Nunes Marques. As mensagens obtidas pelos hackers foram divulgadas pelo site The Intercept Brasil meses após o início do julgamento na Corte.
Procurado, Moro não quis se manifestar. Os advogados que representam os procuradores no Paraná não comentaram.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.